Reflexões para a Semana Santa - Quarta-feira
Semana santa tem diferentes nomes. Alguns povos a denominam “semana silenciosa”, querendo destacar que estes dias são diferentes dos demais. A quaresma também é denominada Época da Paixão. Mas, a intenção ao falar de uma semana santa é a mesma. Acompanhamos nestes dias os últimos passos de Jesus em Jerusalém, desde a sua entrada triunfal, no domingo de ramos, até sua morte, na sexta-feira, e a ressurreição, no domingo de Páscoa.
Depois de caminharmos juntos durante as cinco semanas da quaresma agora adentramos na Semana Santa. Semana em que nós mergulhamos no mistério de nossa salvação e atualizamos em nossa vida a liturgia da paixão e morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.
Esta semana começou com o Domingo de Ramos e, através de sua liturgia, todos nós aclamamos Jesus Cristo como Rei. Ele entra triunfalmente em Jerusalém e toda multidão o acolhe. Esta mesma multidão que o aclama como Rei e Senhor, mais tarde dá a sentença de morte, gritando em alta voz: crucifica-o!
Nos dias que seguem, queremos acolher e aclamar em nossa vida toda a Palavra de Deus para que tenha total significado em nós a passagem da morte para vida nova, da cruz para alegria da ressurreição.
Durante as cinco semanas da quaresma, fizemos um caminho de reflexão a partir das moções e princípios que tem norteado a Renovação Carismática Católica com a finalidade de unir nossa vida e espiritualidade à vontade de Deus e ao mistério da cruz.
Agora, estamos nos aproximando do grande dia, o dia da ressurreição e o convite é para que nossas reflexões sejam guiadas pela Palavra de Deus. Utilizemo-nos das Sagradas Escrituras e experimentemos o poder desta proclamação em nossa vida, renovando-nos a fé e fortalecendo-nos na esperança.
Um hino do século 17 descreve não só a intenção da semana santa, mas de toda a quaresma: “Cristo quero meditar no teu sofrimento, queiras tu iluminar o meu pensamento”. A semana santa deve ser vista dentro do “ciclo de Páscoa” do ano litúrgico da igreja. Inicia na quarta-feira de cinzas (40 dias antes da Páscoa, excetuando-se os domingos) e termina 40 dias depois da Páscoa, na quinta-feira em que se comemora a Ascensão de Jesus Cristo.
A semana santa, bem como a quaresma, tem data variável: cada ano é diferente. O domingo de Páscoa cai no primeiro domingo depois da lua cheia após 20 de março, que é a data nominal do equinócio da primavera no hemisfério Norte. A partir da data de Páscoa fixam-se as demais datas dos dias anteriores e posteriores. Também o carnaval respeita esta antiga tradição: 40 dias antes da Páscoa inicia a Quaresma e, no dia imediatamente anterior ao início deste tempo, festeja-se o carnaval.
Quaresma – Os 40 dias foram estabelecidos no século VIII porque o número 40 tem significado especial na Bíblia: lembramos os 40 dias de Moisés, do profeta Elias e de Jesus Cristo no deserto.
Quarta-feira de Cinzas – Neste dia começa a quaresma, sempre numa quarta-feira. Seu nome origina-se do costume de fazer o sinal da cruz na testa com cinzas, como sinal e símbolo de penitência, jejum e oração.
Ascensão – Quarenta dias depois do domingo da ressurreição termina o período de Páscoa, pois o livro de Atos relata que após a ressurreição Jesus apareceu “durante quarenta dias” aos discípulos e então subiu ao céu (Atos 1.1-11).
A semana santa no calendário litúrgico
Domingo de Ramos – Neste domingo anterior à Páscoa, com o qual começa a semana santa, lembra-se a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Mateus 21.1-11).
Segunda-feira – Comemora-se a purificação do templo por Jesus (Mateus 21.12-13).
Terça-feira – Descrição de Jesus aos discípulos sobre a destruição de Jerusalém (Mateus 23.37-24.2).
Quarta-feira – Lembra a decisão de Judas de trair Jesus e entregá-lo por 30 moedas de prata aos sacerdotes (Mateus 26.14-16).
Quinta-feira Santa – Celebra a instituição da Santa Ceia e lembra a agonia de Jesus no jardim do Getsêmani. Igualmente, é lembrado como Jesus lavou os pés de seus discípulos (Mateus 26.26-30 e 36-46) (João 13.1-11).
Sexta-feira Santa – Lembra a crucificação e a morte de Jesus (Mateus 27.33-56).
Sábado de Aleluia – Reflete-se sobre o sepultamento de Jesus (Mateus 27.57-66).
Domingo de Páscoa – Celebração da ressurreição de Jesus (Mateus 28.1-10).
Significado teológico
“Nós pregamos a Cristo crucificado”, escreve o apóstolo Paulo na primeira epístola aos Coríntios (1.23). Não são os sinais e nem a sabedoria que devem estar no centro da reflexão e, com isto, da fé cristã, mas a morte de Jesus Cristo. Aqui está o centro de toda a teologia. Por este motivo, as igrejas cristãs têm no centro dos seus altares a cruz ou o crucifixo, como a lembrar que o acontecimento mais importante é a morte de Cristo.
O costume de celebrar a semana santa com todas as suas tradições, que se formaram ao longo dos séculos, pode ser um auxílio para compreender e memorizar que o centro de nossa fé cristã está na morte de nosso Senhor. O Cristo ressuscitado é o mesmo que morreu crucificado na Sexta-feira Santa.
Esta semana começou com o Domingo de Ramos e, através de sua liturgia, todos nós aclamamos Jesus Cristo como Rei. Ele entra triunfalmente em Jerusalém e toda multidão o acolhe. Esta mesma multidão que o aclama como Rei e Senhor, mais tarde dá a sentença de morte, gritando em alta voz: crucifica-o!
Nos dias que seguem, queremos acolher e aclamar em nossa vida toda a Palavra de Deus para que tenha total significado em nós a passagem da morte para vida nova, da cruz para alegria da ressurreição.
Durante as cinco semanas da quaresma, fizemos um caminho de reflexão a partir das moções e princípios que tem norteado a Renovação Carismática Católica com a finalidade de unir nossa vida e espiritualidade à vontade de Deus e ao mistério da cruz.
Agora, estamos nos aproximando do grande dia, o dia da ressurreição e o convite é para que nossas reflexões sejam guiadas pela Palavra de Deus. Utilizemo-nos das Sagradas Escrituras e experimentemos o poder desta proclamação em nossa vida, renovando-nos a fé e fortalecendo-nos na esperança.
Quarta-feira 20/04
De maneira muito especial, vamos recordar das dores de Nossa Senhora e unir nossa oração as ações de Maria. Com o auxilio de nossa Mãe, peçamos ajuda para saber enfrentar os momentos de sofrimentos em nossa vida.
Primeira dor: Maria acolhe na fé a profecia de Simeão. “Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição - uma espada transpassará tua alma! E assim serão revelados os pensamentos de muitos corações!”(Lc2,34-35)
Segunda dor: A fuga da Sagrada família para o Egito. “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo. José levantou-se de noite, com o menino e a mãe, e retirou-se para o Egito”. (Mt 2,13-14)
Terceira dor: Maria procura Jesus em Jerusalém. Terminados os dias da festa, enquanto eles voltavam, Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais percebessem. Pensando que se encontrassem na caravana, caminharam um dia inteiro. Começaram então a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. Mas como não o encontrassem, voltaram para Jerusalém, procurando-o. (Lc 2,43-45)
Quarta dor: Maria se encontra com Jesus no caminho do calvário. “Enquanto levavam Jesus, detiveram certo Simão, de Cirene, que voltava do campo, e mandaram-no carregar a cruz atrás de Jesus. Seguia-o uma grande multidão do povo, bem como de mulheres que batiam no peito e choravam com ele”. (Lc 23,26-27)
Quinta dor: Maria aos pés da cruz de seu filho. “Junto à cruz de Jesus, estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cleofás, e Maria Madalena. Jesus ao ver sua mãe e ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher eis o teu filho!” depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu (Jo 19,25-27)
Sexta dor: Maria recebe em seus braços Jesus, descido da cruz. “ Ao entardecer veio um homem rico de Arimatéia, chamado José, que também se tornara discípulo de Jesus. Ele foi procurar Pilatos e pediu o corpo de Jesus. então Pilatos mandou que se lhe entregasse o corpo. José tomando o corpo, envolveu – num lençol limpo e o colocou num túmulo novo, que mandara escavar numa rocha. Em seguida rolou, uma grande pedra na entrada do túmulo e retirou-se. Maria Madalena e a outra Maria estavam ali sentadas, em frente ao sepulcro”. (Mt 27,57-61)
Sétima dor: Maria entrega Jesus para ser sepultado, aguardando a ressurreição. “Eles pegaram o corpo de Jesus e o envolveram, com os perfumes, em faixas de linho, do modo com que os judeus costumavam sepultar. No lugar onde Jesus foi crucificado havia um jardim, um tumulo novo, onde ninguém tinha sido ainda sepultado. Por ser dia de preparação para os judeus, e como o túmulo estava perto, foi lá quem eles colocaram Jesus”. (Jo 19,40-42)
Terceira Prédica de Quaresma
Formação - A caridade sem fingimento
Leia, na integra, a terceira prédica de Quaresma, ministrada por Frei Raniero Cantalamessa, OFMCap, à Cúria Romana. A Pregação aconteceu na última sexta-feira, 8, na presença do Papa Bento XVI.
1. Amarás o teu próximo como a ti mesmo
Um fato notável: o rio Jordão, no seu curso, forma dois mares – o mar da Galileia e o mar Morto. O mar da Galileia é borbulhante de vida, com águas das mais piscosas da terra. O mar Morto é precisamente “morto”: não há rastro de vida nem nele nem ao redor; somente sal. E se trata da mesma água do Jordão! A explicação, pelo menos em parte, é esta: o mar da Galileia recebe as águas do Jordão, mas não as retém para si; deixa fluírem, para irrigarem todo o vale do Jordão. Já o mar Morto recebe as águas e as retém para si, não tem efluentes, dali não sai uma gota. É um símbolo. Para receber o amor de Deus, devemos dá-lo aos irmãos, e, quanto mais damos, mais recebemos. É sobre isto que refletiremos nesta meditação.
Depois de refletir nas duas primeiras meditações sobre o amor de Deus como dom, é hora de meditarmos também sobre o dever de amar; e, em particular, sobre o dever de amar o próximo. O vínculo entre os dois amores é exposto de modo programático na palavra de Deus: “Se Deus nos amou tanto, nós devemos amar-nos uns aos outros” (1Jo 4,11).
“Amarás o próximo como a ti mesmo” era um mandamento antigo, escrito na lei de Moisés (Lev 19,18) e Jesus mesmo o cita como tal (Lc 10,27). Então como é que Jesus o chama de “seu” mandamento e de mandamento “novo”? A resposta é que mudaram o sujeito, o objeto e o motivo do amor ao próximo.
Mudou antes de tudo o objeto: quem é o próximo que deve ser amado. Não é mais só o compatriota, ou o hóspede que habita em meio a nós, mas todos os homens, inclusive o estrangeiro (o samaritano!), inclusive o inimigo! É verdade que a segunda parte da frase “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo” não se encontra ao pé da letra no Antigo Testamento, mas assume a sua orientação geral, expressa na lei de talião “Olho por olho, dente por dente” (Lev 24,20), ainda mais se confrontada com o que Jesus nos exige:
“Mas eu vos digo: amai os vossos inimigos e rezai por quem vos persegue, para serdes filhos do vosso Pai que está nos céus; pois ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e chover sobre justos e injustos. Se amais os que vos amam, que mérito tendes? Não fazem o mesmo os publicanos? E se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Assim não agem também os pagãos?” (Mt 5, 44-47).
Mudou também o sujeito do amor ao próximo, o significado da palavra próximo. Não é o outro; sou eu. Não é quem está perto, mas quem se aproxima. Com a parábola do bom samaritano, Jesus demonstra que não devemos esperar passivamente que o próximo surja em nosso caminho, dando seta e de sirene ligada. O próximo é você, ou aquele que você pode se tornar. O próximo não existe de cara; só temos um próximo se nos aproximamos de alguém.
E mudou, mais do que tudo, o modelo ou a medida do amor ao próximo. Antes de Jesus, o modelo era o amor a si mesmo: “como a ti mesmo”. Foi dito que Deus não podia amarrar o amor ao próximo numa estaca melhor que esta; não teria atingido o mesmo resultado nem se tivesse dito “Amarás o próximo como ao teu Deus”, porque quanto ao amor de Deus, ou seja, quanto ao que é amar a Deus, o homem ainda pode trapacear, mas quanto ao amor a si mesmo, não. O homem sabe perfeitamente o que significa, em qualquer circunstância, amar a si mesmo; é um espelho que está sempre diante dele [1].
Mas é possível enxergar mal até o amor a si mesmo. Por isso Jesus substitui o modelo e a medida por outro: “Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). O homem pode amar a si mesmo do jeito errado, desejando o mal em vez do bem, o vício e não a virtude. Se um homem desses ama o próximo como a si mesmo e quer para ele o mesmo que quer para si, pobre de quem é amado! Já o amor de Jesus, sabemos aonde nos leva: à verdade, ao bem, ao Pai. Quem o segue “não anda nas trevas”. Ele nos amou dando a vida por nós, quando éramos pecadores, ou seja, inimigos (Rom 5,6).
Entende-se assim o que o evangelista João quer dizer com a afirmação aparentemente contraditória: “Caríssimos, não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento velho, que tínheis desde o princípio: o mandamento velho é a palavra que ouvistes. E é, no entanto, um mandamento novo o que vos escrevo” (1Jo 2, 7-8). O mandamento do amor ao próximo é antigo na letra, mas novo pela novidade do evangelho. Novo, explica o papa num capítulo de seu mais recente livro sobre Jesus, porque não é mais só “lei”, mas também, e antes, “graça”. Funda-se na comunhão com Cristo, possível pelo dom do Espírito [2].
Com Jesus, passamos da lei do contrappasso, ou entre dois agentes (“O que o outro te faz, fá-lo a ele”) para a lei do trapasso, entre três agentes: “O que Deus te fez, fá-lo ao próximo”, ou, na direção oposta, “O que fizeres com o próximo, Deus fará contigo”. Jesus e os apóstolos repetem este conceito: “Como Deus vos perdoou, perdoai-vos uns aos outros”. “Se não perdoardes de coração aos vossos inimigos, nem vosso pai vos perdoará”. É cortada pela raiz a desculpa do “mas ele não me ama, me ofende”. Isto diz respeito a ele, não a você. A você interessa o que você faz ao outro e como você se comporta diante do que ele faz a você.
Resta a principal pergunta: por que esta singular mudança de rota do amor de Deus ao próximo? Não seria mais lógico “Como eu vos amei, amai a mim” em vez de “Como eu vos amei, amai-vos uns aos outros”? Pois esta é a diferença entre o amor puramente eros e o amor que é eros e ágape juntos. O amor puramente erótico é um circuito fechado: “Ama-me, Alfredo, ama-me como eu te amo”, canta Violeta na Traviata de Verdi: eu te amo, tu me amas. O amor de ágape é um circuito aberto: vem de Deus e volta a ele, mas passando pelo próximo. Jesus inaugurou ele próprio esse novo tipo de amor: “Como o Pai me amou, eu amei a vós” (Jo 15,9).
Santa Catarina de Sena deu sobre o motivo disto a explicação mais simples e convincente. Ela escreve o que considera que Deus quer:
“Eu vos peço amar-me com o mesmo amor com que vos amo. Mas não podeis, já que vos amei sem ser amado. Todo o amor que me tendes é de dívida, não de graça, porque devestes amar-me, enquanto eu vos amo com amor de graça, e não de dívida. Não podeis, pois, dar a mim o amor que vos peço. Eis por que vos pus ao lado o vosso próximo: para lhe fazerdes o que a mim não podeis, que é amá-lo sem consideração de mérito nem à espera de utilidade. E considero que fazeis a mim o que fizerdes a ele” [3].
2. Amai-vos de coração sincero
Depois destas reflexões gerais sobre o mandamento do amor ao próximo, é hora de falar das qualidades que devem revestir esse amor. São fundamentalmente duas: deve ser um amor sincero e um amor de fato, um amor do coração e das mãos. Desta vez nos ateremos à primeira qualidade, deixando-nos guiar pelo grande cantor da caridade, que é Paulo.
A segunda parte da Carta as Romanos é um subseguir-se de recomendações sobre o amor recíproco na comunidade cristã. “A caridade não seja fingida [...]; amai-vos uns aos outros com afeto fraterno, esforçai-vos no recíproco estimar-se...” (Rm 12, 9). “Não devais a ninguém, senão um amor mútuo, porque quem ama seu semelhante cumpriu a lei” (Rm 13,8).
Para captar a alma unificante destas recomendações, a ideia de fundo, ou melhor, o “sentimento” que Paulo tem da caridade, temos que partir da palavra inicial: “A caridade não seja fingida!”. Esta não é uma das muitas exortações, mas a matriz de que derivam todas as outras. Contém o segredo da caridade. Procuremos captar, com a ajuda do Espírito, esse segredo.
O termo original usado por São Paulo, e traduzido como “sem fingimento”, é an-hypòkritos: “sem hipocrisia”. Este vocábulo é uma espécie de luz indicadora; é um termo raro, que achamos no Novo Testamento quase exclusivamente para definir o amor cristão. A expressão “amor sincero” (an-hypòkritos) volta em 2 Cor 6,6 e em 1 Pd 1,22. Este último texto permite notar, com toda a certeza, o significado do termo em questão, porque o explica com uma perífrase: o amor sincero, diz, consiste no amar-se intensamente com sincero coração.
São Paulo, então, com aquela simples afirmação, “a caridade não seja fingida”, leva o tema até a própria raiz da caridade: o coração. O que se pede do amor é que seja verdadeiro, autêntico, não fictício. Como o vinho, para ser “sincero”, precisa ser espremido da uva, assim o amor precisa vir do coração. Também nisso o Apóstolo é o eco fiel do pensamento de Jesus, que indicou o coração, repetidamente e com força, como o “lugar” em que se determina o valor do que o homem faz, o que é puro ou impuro, na vida de uma pessoa (Mt 15,19).
Podemos falar de uma intuição paulina a respeito da caridade; ela consiste em revelar, por trás do universo visível e exterior da caridade, feito de obras e palavras, outro universo todo interior, que é, em comparação com o primeiro, o que a alma é para o corpo. Revemos esta intuição no outro grande texto sobre a caridade, que é 1 Cor 13. São Paulo, se observamos bem, está falando da caridade interior, das disposições e sentimentos de caridade: a caridade é paciente, é benigna, não é invejosa, não se irrita, tudo releva, tudo crê, tudo espera... Nada que se refira, em si e diretamente, ao fazer o bem, ou às obras de caridade, mas à raiz do quererbem. A benevolência vem antes da beneficência.
É o Apóstolo mesmo quem explicita a diferença entre as duas esferas da caridade, dizendo que o maior ato de caridade exterior – o de repartir com os pobres todos os próprios bens – não serviria de nada sem a caridade interior (cf. 1 Cor 13,3). Seria o oposto da caridade “sincera”. A caridade hipócrita, de fato, é justo a que faz coisas boas sem querer bem; que mostra por fora o que não tem correspondência no coração. Neste caso, temos uma pequenez da caridade, que no fim pode ser disfarce de egoísmo, da busca de si mesmo, instrumentalização do irmão ou simples remorso de consciência.
Seria um erro fatal contrapor a caridade do coração à dos fatos, ou refugiar-se na caridade interior para achar nela uma espécie de álibi da falta de caridade nas obras. No mais, dizer que, sem a caridade, “nada adianta dar tudo aos pobres” não significa que isto não sirva para ninguém e seja inútil. Significa, sim, que não serve de nada “para mim”, mas pode ajudar o pobre que a recebe. Não se trata, portanto, de atenuar a importância das obras de caridade (veremos isto na próxima vez), mas de garantir que elas tenham fundamento firme contra o egoísmo e as suas astúcias infinitas. São Paulo quer que os cristãos sejam “enraizados e fundados na caridade” (Ef 3,17): que o amor seja a raiz e o fundamento de tudo.
Amar sinceramente quer dizer amar com esta profundidade, num grau em que você não pode mentir, porque está sozinho diante de si mesmo, do espelho da sua consciência, sob o olhar de Deus. “Ama o irmão”, escreve Agostinho, “aquele que, perante Deus, onde só ele vê, confirma o seu coração e se pergunta no íntimo se em verdade age por amor do irmão; e o olhar que penetra o coração, onde o homem não consegue enxergar, lhe rende testemunho” [4]. Era sincero, portanto, o amor de Paulo pelos hebreus se ele podia dizer: “Eu digo a verdade em Cristo, não minto; pois a minha consciência o confirma por meio do Espírito Santo; trago no peito grande tristeza e sofrimento contínuo; quisera eu mesmo ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus parentes segundo a carne” (Rm 9, 1-3).
Para ser genuína, a caridade cristã deve partir de dentro, do coração. E as obras de misericórdia, “das vísceras da misericórdia” (Col 3,12). Devemos, porém, precisar que se trata aqui de algo bem mais radical que a simples “interiorização”, que um mero acentuar mais a prática interna da caridade do que a externa. Este é só o primeiro passo. A interiorização se aproxima da divinização! O cristão, dizia São Pedro, é quem ama “de coração sincero”. Mas com que coração? Com “o coração novo e o Espírito novo” recebidos no batismo.
Quando um cristão ama assim, é Deus quem ama através dele; ele se torna um canal do amor de Deus. Acontece como pela consolação, que não é mais que uma modalidade do amor: “Deus nos consola em toda nossa tribulação para podermos nós também consolar os que sofrem todo tipo de aflição com a mesma consolação com que somos consolados por Deus” (2 Cor 1,4). Nós consolamos com a consolação com que somos consolados por Deus, amamos com o amor com que somos amados por Deus. Não com outro. Isto explica a ressonância, aparentemente desproporcionada, de simplíssimos atos de amor, tantas vezes até escondidos, e toda a esperança e luz que eles criam ao seu redor.
3. A caridade edifica
Quando se fala da caridade nos escritos apostólicos, nunca se fala em abstrato, de modo genérico. O fundo é sempre a edificação da comunidade cristã. Em outras palavras, o primeiro âmbito de exercício da caridade tem que ser a Igreja e, mais concretamente, a comunidade em que se vive, as pessoas com que se têm relações cotidianas. Assim deve ser hoje ainda, em particular no coração da Igreja, entre os que trabalham em contato estreito com o Sumo Pontífice.
Durante certo tempo, na antiguidade, designou-se com o termo caridade, ágape, não só a refeição fraterna que os cristãos faziam juntos, mas também a Igreja inteira [5]. O mártir Santo Inácio de Antioquia saúda a Igreja de Roma como a que “preside a caridade (ágape)”, ou seja, a “fraternidade cristã”, no conjunto de todas as igrejas [6]. Esta frase não afirma só o fato do primado, mas também a sua natureza, o modo de exercê-lo: na caridade.
A Igreja tem necessidade urgente de uma camada de caridade que restaure as suas fraturas. Paulo VI dizia num discurso: “A Igreja precisa sentir refluir por todas as suas faculdades humanas a onda do amor, daquele amor que se chama caridade, e que se difunde em nossos corpos por obra do Espírito Santo dado a nós” [7]. Só o amor cura. É o óleo do samaritano. Óleo também porque tem que flutuar acima de tudo, como o óleo sobre os líquidos. “Acima de tudo esteja a caridade, vínculo da perfeição” (Col 3,14). Acima de tudo, super omnia. Portanto, acima da fé e da esperança, da disciplina, da autoridade, ainda que, evidentemente, as próprias disciplina e autoridade podem ser uma expressão da caridade. Não há unidade sem caridade, e, se houvesse, seria uma unidade de pouco valor para Deus.
Um âmbito importante em que trabalhar é o dos julgamentos mútuos. Paulo escrevia aos Romanos: “Por que julgas o teu irmão? Por que desprezas o teu irmão? Deixemos de julgar-nos uns aos outros” (Rm 14, 10.13). Antes dele, Jesus tinha dito: “Não julgueis, para não serdes julgados. [...] Por que observas o cisco no olho do teu irmão e não vês a trave no teu?” (Mt 7, 1-3). Compara o pecado do próximo (o pecado julgado), seja qual for, a um cisco, diante do pecado de quem julga (o pecado de julgar), que é uma trave. A trave é o próprio fato de julgar, tão grave ele é perante Deus.
O discurso sobre julgamentos é delicado e complexo. Se ficar pela metade, parece pouco realista. Como é que se pode viver sem julgar nunca? O juízo é implícito em nós até num olhar. Não podemos observar, escutar, viver, sem fazer avaliações, ou seja, sem julgar. Um pai, um superior, um confessor, um juiz, qualquer um que tenha responsabilidade sobre outros, precisa julgar. Às vezes, até, como é o caso de muitos aqui na cúria, o julgar é, precisamente, o tipo de serviço que se é chamado a prestar à sociedade ou à Igreja.
Realmente, não é tanto o julgar que deve ser extirpado do nosso coração, mas o veneno do nosso julgar! O rancor, a condenação. Na redação de Lucas, o mandado de Jesus “Não julgueis e não sereis julgados” é seguido imediatamente, como para explicitar o sentido destas palavras, pelo mandado “Não condeneis e não sereis condenados” (Lc 6,37). Em si, julgar é uma ação neutra. O juízo pode terminar tanto em condenação quanto em absolvição e justificação. São os juízos negativos os que a palavra de Deus reprime e elimina, aqueles que condenam o pecador junto com o pecado, aqueles que olham mais para a punição do que para a correção do irmão.
Outro ponto qualificador da caridade sincera é a estima: “Lutai para vos estimardes mutuamente” (Rm 12,10). Para estimar o irmão, é preciso não estimar demais a si mesmo, não ser sempre seguro de si. É preciso, diz o Apóstolo, “não ter uma visão alta demais de si próprio” (Rm 12,3). Quem tem uma ideia muito alta de si mesmo é como um homem que, à noite, tem diante dos olhos uma fonte de luz intensa: não consegue ver nada além dela; não consegue ver a luz dos irmãos, seus dotes e seus valores.
“Minimizar” deve se tornar o nosso verbo preferido nas relações com os outros: minimizar os nossos destaques e minimizar os defeitos alheios. Não minimizar os nossos defeitos e os destaques alheios, como somos tantas vezes levados a fazer; é diametralmente o oposto! Há uma fábula de Esopo a este respeito; reelaborada por La Fontaine, ela diz assim:
“Ao chegar a este vale, cada um traz ao ombro um duplo embornal. Dentro do embornal dianteiro, lança prazenteiro os defeitos do próximo, enquanto no outro lança os próprios” [8].
Deveríamos inverter: lançar os nossos próprios defeitos na sacola que temos à nossa frente, e os defeitos dos outros deixá-los na sacola que fica para trás. São Tiago admoesta: “Não faleis mal uns dos outros” (Tg 4,11). A fofoca parece ter virado coisa inocente, mas é uma das que mais poluem a vida em grupo. Não basta não falar mal dos outros; precisamos também impedir que os outros o façam em nossa presença; fazê-los notar, mesmo que silenciosamente, que não estamos de acordo. Como é diferente o ar que respiramos num ambiente de trabalho ou numa comunidade quando levamos a sério a admoestação de São Tiago! Em muitos locais públicos está escrito “Aqui não se fuma”. Antigamente havia até alguns avisos de “Aqui não se blasfema”. Não faria mal acrescentar, em alguns casos, “Aqui não se fofoca”.
Terminemos ouvindo como dirigida a nós mesmos a exortação do Apóstolo à comunidade dos filipenses, tão amada por ele: “Tornai plena a minha alegria cultivando um só pensar, um mesmo amor, sendo unânimes e nutrindo um só sentimento. Nada façais por espírito de separação ou por vanglória, mas, com humildade, cada um repute os outros superiores a si mesmo, procurando não o próprio interesse, mas o do próximo. Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus” (Fil 2, 2-5).
RCC Mossoró/RN
Formações
Retiro Popular - Dia 20
Respondei-me pelo vosso imenso amor
Acompanhamos e participamos do mistério de Cristo, que se entrega pela nossa salvação. Vamos a Betânia e ao Cenáculo, acompanhamos Pedro, Judas, Lázaro, Marta, Maria e os outros discípulos. Ninguém fique indiferente, pois somos chamados a “tomar partido” junto do Senhor, escolhendo segui-lo nos caminhos da vida.
“Respondei-me pelo vosso imenso amor, neste tempo favorável, Senhor Deus”.
Is 50,4-9a
Sl 68 (69),8-10.21bcd-22.31 e 33-34 (R/.
14c e b)
Mt 26,14-25
“Respondei-me pelo vosso imenso amor, neste tempo favorável, Senhor Deus”.
Is 50,4-9a
Sl 68 (69),8-10.21bcd-22.31 e 33-34 (R/.
14c e b)
Mt 26,14-25
Roteiro diário
Oração: Reze esta oração, composta pelo papa Paulo VI. Pouco a pouco, você saberá repeti-la com calma e ser acompanhado por ela muitas vezes durante o ano.
Ó Espírito Santo, dai-me um coração grande, aberto à vossa silenciosa e forte palavra inspiradora, fechado a todas as ambições mesquinhas, alheio a qualquer desprezível competição humana, compenetrado do sentido da santa Igreja! Um coração grande, desejoso de se tornar semelhante ao coração do Senhor Jesus! Um coração grande e forte para amar a todos, para servir a todos, para sofrer por todos! Um coração grande e forte, para superar todas as provações, todo tédio, todo cansaço, toda desilusão, toda ofensa! Um coração grande e forte, constante até o sacrifício, quando for necessário! Um coração cuja felicidade é palpitar com o coração de Cristo e cumprir, humilde, fiel e firmemente a vontade do Pai. Amém.
Leitura orante da Palavra de Deus: Leia o texto indicado para cada dia, escolhendo o Evangelho do dia ou uma das leituras indicadas pela Igreja.
Gestos penitenciais: Três práticas acompanham nossa Quaresma: a oração, a penitência ou jejum e a caridade. Acolha nossas propostas e exercite a criatividade, descobrindo e atualizando estas práticas em sua vida diária.
Oração: Reze esta oração, composta pelo papa Paulo VI. Pouco a pouco, você saberá repeti-la com calma e ser acompanhado por ela muitas vezes durante o ano.
Ó Espírito Santo, dai-me um coração grande, aberto à vossa silenciosa e forte palavra inspiradora, fechado a todas as ambições mesquinhas, alheio a qualquer desprezível competição humana, compenetrado do sentido da santa Igreja! Um coração grande, desejoso de se tornar semelhante ao coração do Senhor Jesus! Um coração grande e forte para amar a todos, para servir a todos, para sofrer por todos! Um coração grande e forte, para superar todas as provações, todo tédio, todo cansaço, toda desilusão, toda ofensa! Um coração grande e forte, constante até o sacrifício, quando for necessário! Um coração cuja felicidade é palpitar com o coração de Cristo e cumprir, humilde, fiel e firmemente a vontade do Pai. Amém.
Leitura orante da Palavra de Deus: Leia o texto indicado para cada dia, escolhendo o Evangelho do dia ou uma das leituras indicadas pela Igreja.
Gestos penitenciais: Três práticas acompanham nossa Quaresma: a oração, a penitência ou jejum e a caridade. Acolha nossas propostas e exercite a criatividade, descobrindo e atualizando estas práticas em sua vida diária.
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA
Arcebispo de Belém - PA
Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.
Catequese de Bento XVI sobre o Tríduo Pascal
Queridos irmãos e irmãs,
estamos a partir de agora juntos ao coração da Semana Santa, cumprimento do caminho quaresmal. Amanhã entraremos no Tríduo Pascal, os três dias santos em que a Igreja faz memória do mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. O Filho de Deus, após fazer-se homem em obediência ao Pai, tornando-se em tudo semelhante a nós, exceto no pecado (cf. Heb 4,15), aceitou cumprir até o fim a sua vontade, de enfrentar por amos a nós a paixão e a cruz, para fazer-nos participantes da sua Ressurreição, a fim de que n'Ele e por Ele possamos viver para sempre, na consolação e na paz. Exorto-vos, portanto, a acolher esse mistério de salvação, a participar intensamente do Tríduo pascal, fulcro de todo o ano litúrgico e momento de graça particular para todo o cristão; convido-vos a buscar nestes dias o recolhimento e a oração, de forma a alcançar mais profundamente essa fonte de graça. A tal propósito, em vista das iminentes festividades, cada cristão é convidado a celebrar o Sacramento da Reconciliação, momento de especial adesão à morte e ressurreição de Cristo, para poder participar com maior fruto da Santa Páscoa.
A Quinta-feira Santa é o dia em que se faz memória da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio Ministerial. Pela manhã, cada comunidade diocesana, reunida na Igreja Catedral em torno do Bispo, celebra a Missa Crismal, na qual são abençoados o Santo Crisma, o Óleo dos catecúmenos e o Óleo dos Enfermos. A partir do Tríduo Pascal e por todo o ano litúrgico, esses óleos serão utilizados para os Sacramentos do Batismo, da Confirmação, das Ordenações Sacerdotal e Episcopal e da Unção dos Enfermos; nisso evidencia-se como a salvação, transmitida pelos sinais sacramentais, deriva-se exatamente do Mistério pascal de Cristo; de fato, nós somos redimidos com a sua morte e ressurreição e, mediante os Sacramentos, alcançamos aquela mesma fonte salvífica. Durante a Missa Crismal, amanhã, acontece também a renovação das promessas sacerdotais. No mundo inteiro, cada sacerdote renova os compromissos que assumiu no dia da Ordenação, para ser totalmente consagrado a Cristo no exercício do sagrado ministério a serviço dos irmãos. Acompanhemos os nossos sacerdotes com a nossa oração.
Na tarde da Quinta-feira Santa inicia efetivamente o Tríduo Pascal, com a memória da Última Ceia, na qual Jesus instituiu o Memorial da sua Páscoa, dando cumprimento ao rito pascal hebraico. Segundo a tradição, toda família hebraica, reunida á mesa na festa da Páscoa, como o cordeiro assado, fazendo memória da libertação dos Israelitas da escravidão do Egito; assim, no cenáculo, consciente da sua morte iminente, Jesus, verdadeiro Cordeiro pascal, oferece a si mesmo pela nossa salvação (cf. 1Cor 5,7). Pronunciando a bênção sobre o pão e o vinho, Ele antecipa o sacrifício da cruz e manifesta a intenção de perpetuar a sua presença em meio aos discípulos: sob as espécies do pão e do vinho, Ele se torna presente de modo real com o seu corpo doado e o seu sangue derramado. Durante a Última Ceia, os Apóstolos são constituídos ministros deste Sacramento de salvação; a esses Jesus lava os pés (cf. Jo 13,1-25), convidando-lhes a amar-se uns aos outros como Ele lhes tinha amado, dando a vida por eles. Repetindo esse gesto na Liturgia, também nós somos chamados a testemunhar ativamente o amor do nosso Redentor.
A Quinta-feira Santa, enfim, encerra-se com a Adoração eucarística, na recordação da agonia do Senhor no Horto das Oliveiras. Após sair do cenáculo, Ele se retirou em oração, sozinho, na presença do Pai. Naquele momento de comunhão profunda, os Evangelhos narram que Jesus experimentou uma grande angústia, um sofrimento tal que lhe fez suar sangue (cf. Mt 26,38). Na consciência de sua iminente morte na cruz, Ele sente uma grande angústia e a proximidade da morte. Nessa situação, aparece também um elemento de grande importância para toda a Igreja. Jesus diz aos seus: permanecei aqui e vigiai; e esse apelo à vigilância concerne exatamente este momento de angústia, de ameaça, no qual chegará o traiçoeiro [traidor], mas concerne toda a história da Igreja. É uma mensagem permanente para todos os tempos, porque a sonolência dos discípulos era não somente o problema daquele momento, mas é o problema de toda a história. A questão está em que consiste essa sonolência, em que consistiria a vigilância à qual o Senhor nos convida. Diria que a sonolência dos discípulos ao longo da história é uma certa insensibilidade da alma frente ao poder do mal, uma insensibilidade por todo o mal do mundo. Nós não queremos deixar-nos preocupar muito com essas coisas, desejamos esquecê-las: pensamos que talvez não sejam assim tão graves, e esquecemos. E não é somente insensibilidade ao mal, enquanto devemos vigiar para fazer o bem, para lutar pela força do bem. É insensibilidade por Deus: essa é a nossa verdadeira sonolência; essa insensibilidade pela presença de Deus que nos torna insensíveis também para o mal. Não ouvimos Deus – nos perturbaria – e assim não ouvimos, naturalmente, também a força do mal e permanecemos sobre a estrada da nossa comodidade. A adoração noturna da Quinta-feira Santa, o ser vigilantes com o Senhor, deveria ser exatamente o momento para fazer-nos refletir sobre a sonolência dos discípulos, dos defensores de Jesus, dos apóstolos, de nós, que não vemos, não desejamos ver toda a força do mal, e que não desejamos entrar na sua paixão pelo bem, pela presença de Deus no mundo, pelo amor ao próximo e a Deus.
Depois, o Senhor começa a rezar. Os três apóstolos – Pedro, Tiago e João – dormem, mas algumas vezes despertam e escutam o refrão desta oração do Senhor: "Não a minha vontade, mas a tua seja realizada”. Que é essa minha vontade, que é essa tua vontade, de que fala o Senhor? A minha vontade é "que não deveria morrer", que lhe seja afastado esse cálice do sofrimento: é a vontade humana, da natureza humana, e Cristo sente, com toda a consciência do seu ser, a vida, o abismo da morte, o terror do nada, esta ameaça do sofrimento. E Ele mais do que nós, que temos esta natural aversão contra a morte, esse medo natural da morte, ainda mais do que nós, sente o abismo do mal. Sente, com a morte, também todo o sofrimento da humanidade. Sente que tudo isso é o cálice que deve beber, deve fazer beber a si mesmo, aceitar o mal do mundo, tudo isso que é terrível, a aversão contra Deus, todo o pecado. E podemos compreender como Jesus, com a sua alma humana, esteja aterrorizado diante dessa realidade, que percebe em toda a sua crueldade: a minha vontade seria não beber o cálice, mas a minha vontade é subordinada à tua vontade, vontade de Deus, à vontade do Pai, que é também a verdadeira vontade do Filho. E assim Jesus transforma, nessa oração, a aversão natural, a aversão contra o cálice, contra a sua missão de morrer por nós; transforma essa sua vontade natural em vontade de Deus, em um "sim" à vontade de Deus. O homem por si só é tentado a opor-se à vontade de Deus, a ter a intenção de seguir a própria vontade, de sentir-se livre somente se é autônomo; opõe a própria autonomia contra a heteronomia de seguir a vontade de Deus. Esse é todo o drama da humanidade. Mas, na verdade, essa autonomia é errada e esse entrar na vontade de Deus não é uma oposição a si, não é uma escravidão que violenta a minha vontade, mas é entrar na verdade e no amor, no bem. E Jesus leva a nossa vontade, que se opõe à vontade de Deus, que busca a autonomia, leva essa nossa vontade para o alto, rumo à vontade de Deus. Esse é o drama da nossa redenção, que Jesus puxa para o alto a nossa vontade, toda a nossa aversão contra a vontade de Deus e a nossa aversão contra a morte e o pecado, e a une com a vontade do Pai: “Não a minha vontade mas a tua”. Nessa transformação do "não" em "sim", nessa inserção da vontade da criatura na vontade do Pai, Ele transforma a humanidade e nos redime. E convida-nos a entrar neste seu movimento: sair do nosso "não" e entrar no "sim" do Filho. A minha vontade existe, mas decisiva é a vontade do Pai, porque essa é a verdade e o amor.
Um ulterior elemento dessa oração me parece importante. As três testemunhas conservaram – como aparece na Sagrada Escritura - a palavra hebraica ou aramaica com a qual o Senhor falou com o Pai, o chamou "Abbà", pai. Mas essa fórmula, "Abbà", é uma forma familiar do termo pai, uma forma que se usa somente em família, que não era nunca usada no relacionamento com Deus. Aqui vemos no íntimo de Jesus como fala em família, fala verdadeiramente como Filho com o Pai. Vemos o mistério trinitário: o Filho que fala com o Pai e redime a humanidade.
Ainda uma observação. A Carta aos Hebreus deu-nos uma profunda interpretação dessa oração do Senhor, desse drama do Getsemani. Diz: essas lágrimas de Jesus, essa oração, esse grito de Jesus, essa angústia, tudo isso não é simplesmente uma concessão à debilidade da carne, como se poderia dizer. Propriamente assim realiza o encargo do Sumo Sacerdote, porque o Sumo Sacerdote deve levar o ser humano, com todos os seus problemas e sofrimentos, à altura de Deus. E a Carta aos Hebreus diz: com todos esses gritos, lágrimas, sofrimentos, orações, o Senhor levou a nossa realidade a Deus (cf. Heb 5,7ss). E usa esta palavra grega “prosferein”, que é o termo técnico para quanto deve fazer o Sumo Sacerdote para ofertar, para levantar ao alto as suas mãos.
Exatamente nesse drama do Getsemani, onde parece que a força de Deus não esteja mais presente, Jesus realiza a função do Sumo Sacerdote. E diz também que nesse ato de obediência, isto é, de conformação da vontade natural humana à vontade de Deus, é aperfeiçoado como sacerdote. E usa de novo a palavra técnica para ordenar sacerdote. Exatamente assim torna-se realmente o Sumo Sacerdote da humanidade e abre assim o céu e a porta à ressurreição.
Se refletimos sobre este drama do Getsemani, podemos também ver o grande contraste entre Jesus com a angústia, com o seu sofrimento, em relação ao grande filósofo Sócrates, que permanece pacífico, sem perturbação diante da morte. E parece esse o ideal. Podemos admirar esse filósofo, mas a missão de Jesus era uma outra. A sua missão não era essa total indiferença e liberdade; a sua missão era levar em si todo o nosso sofrimento, todo o drama humano. E por isso exatamente essa humilhação do Getsemani é essencial para a missão do Homem-Deus. Ele carrega em si o nosso sofrimento, a nossa pobreza, e a transforma segundo a vontade de Deus. E assim abre as portas do céu, abre o céu: esta tenda do Santíssimo, que até então o homem havia fechado contra Deus, é aberta por esse seu sofrimento e obediência. Eis algumas observações para a Quinta-feira Santa, para a nossa celebração da Quinta-feira Santa.
Na Sexta-feira Santa faremos memória da paixão e da morte do Senhor; adoraremos Cristo Crucificado, participaremos nos seus sofrimentos com a penitência e o jejum. Lançando "o olhar àquele que foi trespassado" (cf. Jo 19,37), podemos chegar a seu coração que emana sangue e água como de uma fonte; daquele coração do qual brota o amor de Deus por todo o homem, recebemos o seu Espírito. Acompanhemos, portanto, na Sexta-feira Santa também nós Jesus que sai ao Calvário, deixemo-nos guiar por Ele até a cruz, recebamos a oferta do seu corpo imolado. Enfim, na noite do Sábado Santo, celebraremos a solene Vigília Pascal, na qual nos é anunciada a ressurreição de Cristo, a sua vitória definitiva sobre a morte que nos interpela a ser n'Ele homens novos. Participando neste Santa Vigília, a Noite central de todo o Ano Litúrgico, faremos memória do nosso Batismo, no qual também nós fomos sepultados com Cristo, para poder com Ele ressurgir e participar do banquete do céu (cf. Ap 19,7-9).
Queridos amigos, buscamos compreender o estado de ânimo com que Jesus viveu o momento da prova extrema, para colher aquilo que orientava o seu agir. O critério que guiou cada escolha de Jesus durante toda a sua vida foi a firme vontade de amar o Pai, de ser um com o Pai, e ser-Lhe fiel. Essa decisão de corresponder ao seu amor o levou a abraçar, em cada circunstância, o projeto do Pai, a fazer próprio o plano de amor confiado-Lhe de recapitular todas as coisas n'Ele, para reconduzir a Ele todas as coisas. No reviver o santo Tríduo, disponhamo-nos a acolher também nós na nossa vida a vontade de Deus, conscientes de que na vontade de Deus, também se parece dura, em contraste com as nossas intenções, encontra-se o nosso verdadeiro bem, o caminho da vida. A Virgem Mãe guie-nos nesse itinerário, e nos obtenha do seu Filho divino a graça de poder gastar a nossa vida por amor a Jesus, no serviço dos irmãos. Obrigado.
A Quinta-feira Santa é o dia em que se faz memória da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio Ministerial. Pela manhã, cada comunidade diocesana, reunida na Igreja Catedral em torno do Bispo, celebra a Missa Crismal, na qual são abençoados o Santo Crisma, o Óleo dos catecúmenos e o Óleo dos Enfermos. A partir do Tríduo Pascal e por todo o ano litúrgico, esses óleos serão utilizados para os Sacramentos do Batismo, da Confirmação, das Ordenações Sacerdotal e Episcopal e da Unção dos Enfermos; nisso evidencia-se como a salvação, transmitida pelos sinais sacramentais, deriva-se exatamente do Mistério pascal de Cristo; de fato, nós somos redimidos com a sua morte e ressurreição e, mediante os Sacramentos, alcançamos aquela mesma fonte salvífica. Durante a Missa Crismal, amanhã, acontece também a renovação das promessas sacerdotais. No mundo inteiro, cada sacerdote renova os compromissos que assumiu no dia da Ordenação, para ser totalmente consagrado a Cristo no exercício do sagrado ministério a serviço dos irmãos. Acompanhemos os nossos sacerdotes com a nossa oração.
Na tarde da Quinta-feira Santa inicia efetivamente o Tríduo Pascal, com a memória da Última Ceia, na qual Jesus instituiu o Memorial da sua Páscoa, dando cumprimento ao rito pascal hebraico. Segundo a tradição, toda família hebraica, reunida á mesa na festa da Páscoa, como o cordeiro assado, fazendo memória da libertação dos Israelitas da escravidão do Egito; assim, no cenáculo, consciente da sua morte iminente, Jesus, verdadeiro Cordeiro pascal, oferece a si mesmo pela nossa salvação (cf. 1Cor 5,7). Pronunciando a bênção sobre o pão e o vinho, Ele antecipa o sacrifício da cruz e manifesta a intenção de perpetuar a sua presença em meio aos discípulos: sob as espécies do pão e do vinho, Ele se torna presente de modo real com o seu corpo doado e o seu sangue derramado. Durante a Última Ceia, os Apóstolos são constituídos ministros deste Sacramento de salvação; a esses Jesus lava os pés (cf. Jo 13,1-25), convidando-lhes a amar-se uns aos outros como Ele lhes tinha amado, dando a vida por eles. Repetindo esse gesto na Liturgia, também nós somos chamados a testemunhar ativamente o amor do nosso Redentor.
A Quinta-feira Santa, enfim, encerra-se com a Adoração eucarística, na recordação da agonia do Senhor no Horto das Oliveiras. Após sair do cenáculo, Ele se retirou em oração, sozinho, na presença do Pai. Naquele momento de comunhão profunda, os Evangelhos narram que Jesus experimentou uma grande angústia, um sofrimento tal que lhe fez suar sangue (cf. Mt 26,38). Na consciência de sua iminente morte na cruz, Ele sente uma grande angústia e a proximidade da morte. Nessa situação, aparece também um elemento de grande importância para toda a Igreja. Jesus diz aos seus: permanecei aqui e vigiai; e esse apelo à vigilância concerne exatamente este momento de angústia, de ameaça, no qual chegará o traiçoeiro [traidor], mas concerne toda a história da Igreja. É uma mensagem permanente para todos os tempos, porque a sonolência dos discípulos era não somente o problema daquele momento, mas é o problema de toda a história. A questão está em que consiste essa sonolência, em que consistiria a vigilância à qual o Senhor nos convida. Diria que a sonolência dos discípulos ao longo da história é uma certa insensibilidade da alma frente ao poder do mal, uma insensibilidade por todo o mal do mundo. Nós não queremos deixar-nos preocupar muito com essas coisas, desejamos esquecê-las: pensamos que talvez não sejam assim tão graves, e esquecemos. E não é somente insensibilidade ao mal, enquanto devemos vigiar para fazer o bem, para lutar pela força do bem. É insensibilidade por Deus: essa é a nossa verdadeira sonolência; essa insensibilidade pela presença de Deus que nos torna insensíveis também para o mal. Não ouvimos Deus – nos perturbaria – e assim não ouvimos, naturalmente, também a força do mal e permanecemos sobre a estrada da nossa comodidade. A adoração noturna da Quinta-feira Santa, o ser vigilantes com o Senhor, deveria ser exatamente o momento para fazer-nos refletir sobre a sonolência dos discípulos, dos defensores de Jesus, dos apóstolos, de nós, que não vemos, não desejamos ver toda a força do mal, e que não desejamos entrar na sua paixão pelo bem, pela presença de Deus no mundo, pelo amor ao próximo e a Deus.
Depois, o Senhor começa a rezar. Os três apóstolos – Pedro, Tiago e João – dormem, mas algumas vezes despertam e escutam o refrão desta oração do Senhor: "Não a minha vontade, mas a tua seja realizada”. Que é essa minha vontade, que é essa tua vontade, de que fala o Senhor? A minha vontade é "que não deveria morrer", que lhe seja afastado esse cálice do sofrimento: é a vontade humana, da natureza humana, e Cristo sente, com toda a consciência do seu ser, a vida, o abismo da morte, o terror do nada, esta ameaça do sofrimento. E Ele mais do que nós, que temos esta natural aversão contra a morte, esse medo natural da morte, ainda mais do que nós, sente o abismo do mal. Sente, com a morte, também todo o sofrimento da humanidade. Sente que tudo isso é o cálice que deve beber, deve fazer beber a si mesmo, aceitar o mal do mundo, tudo isso que é terrível, a aversão contra Deus, todo o pecado. E podemos compreender como Jesus, com a sua alma humana, esteja aterrorizado diante dessa realidade, que percebe em toda a sua crueldade: a minha vontade seria não beber o cálice, mas a minha vontade é subordinada à tua vontade, vontade de Deus, à vontade do Pai, que é também a verdadeira vontade do Filho. E assim Jesus transforma, nessa oração, a aversão natural, a aversão contra o cálice, contra a sua missão de morrer por nós; transforma essa sua vontade natural em vontade de Deus, em um "sim" à vontade de Deus. O homem por si só é tentado a opor-se à vontade de Deus, a ter a intenção de seguir a própria vontade, de sentir-se livre somente se é autônomo; opõe a própria autonomia contra a heteronomia de seguir a vontade de Deus. Esse é todo o drama da humanidade. Mas, na verdade, essa autonomia é errada e esse entrar na vontade de Deus não é uma oposição a si, não é uma escravidão que violenta a minha vontade, mas é entrar na verdade e no amor, no bem. E Jesus leva a nossa vontade, que se opõe à vontade de Deus, que busca a autonomia, leva essa nossa vontade para o alto, rumo à vontade de Deus. Esse é o drama da nossa redenção, que Jesus puxa para o alto a nossa vontade, toda a nossa aversão contra a vontade de Deus e a nossa aversão contra a morte e o pecado, e a une com a vontade do Pai: “Não a minha vontade mas a tua”. Nessa transformação do "não" em "sim", nessa inserção da vontade da criatura na vontade do Pai, Ele transforma a humanidade e nos redime. E convida-nos a entrar neste seu movimento: sair do nosso "não" e entrar no "sim" do Filho. A minha vontade existe, mas decisiva é a vontade do Pai, porque essa é a verdade e o amor.
Um ulterior elemento dessa oração me parece importante. As três testemunhas conservaram – como aparece na Sagrada Escritura - a palavra hebraica ou aramaica com a qual o Senhor falou com o Pai, o chamou "Abbà", pai. Mas essa fórmula, "Abbà", é uma forma familiar do termo pai, uma forma que se usa somente em família, que não era nunca usada no relacionamento com Deus. Aqui vemos no íntimo de Jesus como fala em família, fala verdadeiramente como Filho com o Pai. Vemos o mistério trinitário: o Filho que fala com o Pai e redime a humanidade.
Ainda uma observação. A Carta aos Hebreus deu-nos uma profunda interpretação dessa oração do Senhor, desse drama do Getsemani. Diz: essas lágrimas de Jesus, essa oração, esse grito de Jesus, essa angústia, tudo isso não é simplesmente uma concessão à debilidade da carne, como se poderia dizer. Propriamente assim realiza o encargo do Sumo Sacerdote, porque o Sumo Sacerdote deve levar o ser humano, com todos os seus problemas e sofrimentos, à altura de Deus. E a Carta aos Hebreus diz: com todos esses gritos, lágrimas, sofrimentos, orações, o Senhor levou a nossa realidade a Deus (cf. Heb 5,7ss). E usa esta palavra grega “prosferein”, que é o termo técnico para quanto deve fazer o Sumo Sacerdote para ofertar, para levantar ao alto as suas mãos.
Exatamente nesse drama do Getsemani, onde parece que a força de Deus não esteja mais presente, Jesus realiza a função do Sumo Sacerdote. E diz também que nesse ato de obediência, isto é, de conformação da vontade natural humana à vontade de Deus, é aperfeiçoado como sacerdote. E usa de novo a palavra técnica para ordenar sacerdote. Exatamente assim torna-se realmente o Sumo Sacerdote da humanidade e abre assim o céu e a porta à ressurreição.
Se refletimos sobre este drama do Getsemani, podemos também ver o grande contraste entre Jesus com a angústia, com o seu sofrimento, em relação ao grande filósofo Sócrates, que permanece pacífico, sem perturbação diante da morte. E parece esse o ideal. Podemos admirar esse filósofo, mas a missão de Jesus era uma outra. A sua missão não era essa total indiferença e liberdade; a sua missão era levar em si todo o nosso sofrimento, todo o drama humano. E por isso exatamente essa humilhação do Getsemani é essencial para a missão do Homem-Deus. Ele carrega em si o nosso sofrimento, a nossa pobreza, e a transforma segundo a vontade de Deus. E assim abre as portas do céu, abre o céu: esta tenda do Santíssimo, que até então o homem havia fechado contra Deus, é aberta por esse seu sofrimento e obediência. Eis algumas observações para a Quinta-feira Santa, para a nossa celebração da Quinta-feira Santa.
Na Sexta-feira Santa faremos memória da paixão e da morte do Senhor; adoraremos Cristo Crucificado, participaremos nos seus sofrimentos com a penitência e o jejum. Lançando "o olhar àquele que foi trespassado" (cf. Jo 19,37), podemos chegar a seu coração que emana sangue e água como de uma fonte; daquele coração do qual brota o amor de Deus por todo o homem, recebemos o seu Espírito. Acompanhemos, portanto, na Sexta-feira Santa também nós Jesus que sai ao Calvário, deixemo-nos guiar por Ele até a cruz, recebamos a oferta do seu corpo imolado. Enfim, na noite do Sábado Santo, celebraremos a solene Vigília Pascal, na qual nos é anunciada a ressurreição de Cristo, a sua vitória definitiva sobre a morte que nos interpela a ser n'Ele homens novos. Participando neste Santa Vigília, a Noite central de todo o Ano Litúrgico, faremos memória do nosso Batismo, no qual também nós fomos sepultados com Cristo, para poder com Ele ressurgir e participar do banquete do céu (cf. Ap 19,7-9).
Queridos amigos, buscamos compreender o estado de ânimo com que Jesus viveu o momento da prova extrema, para colher aquilo que orientava o seu agir. O critério que guiou cada escolha de Jesus durante toda a sua vida foi a firme vontade de amar o Pai, de ser um com o Pai, e ser-Lhe fiel. Essa decisão de corresponder ao seu amor o levou a abraçar, em cada circunstância, o projeto do Pai, a fazer próprio o plano de amor confiado-Lhe de recapitular todas as coisas n'Ele, para reconduzir a Ele todas as coisas. No reviver o santo Tríduo, disponhamo-nos a acolher também nós na nossa vida a vontade de Deus, conscientes de que na vontade de Deus, também se parece dura, em contraste com as nossas intenções, encontra-se o nosso verdadeiro bem, o caminho da vida. A Virgem Mãe guie-nos nesse itinerário, e nos obtenha do seu Filho divino a graça de poder gastar a nossa vida por amor a Jesus, no serviço dos irmãos. Obrigado.
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Catequese do Papa: todos nós somos chamados à santidade
Nas audiências gerais dos últimos dois anos, estivemos na companhia de muitos santos e santas: aprendemos a conhecê-los de perto e a entender que toda a história da Igreja está marcada por esses homens e mulheres que, com sua fé, seu amor, sua vida, foram luzes de muitas gerações, e são também para nós. Os santos manifestam de muitas maneiras a presença poderosa e transformadora do Ressuscitado; deixaram que Cristo possuísse tão plenamente suas vidas, que podiam afirmar, como São Paulo, "Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). Seguir seu exemplo, recorrer à sua intercessão, entrar em comunhão com eles "nos une a Cristo, de quem procedem, como de fonte e cabeça, toda a graça e a própria vida do Povo de Deus" (‘Lumen Gentium', 50). No final deste ciclo de catequeses, eu gostaria de oferecer algumas ideias sobre o que é a santidade.
O que significa ser santo? Quem é chamado a ser santo? As pessoas geralmente pensam que a santidade é uma meta reservada a uns poucos escolhidos. São Paulo, no entanto, fala do grande projeto de Deus e diz: "Nele (Cristo), Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e íntegros diante dele, no amor" (Ef 1,4). E fala de todos nós. No centro do desígnio divino está Cristo, em quem Deus mostra seu Rosto: o Mistério escondido nos séculos se revelou na plenitude do Verbo feito carne. E Paulo diz depois: "Pois Deus quis fazer habitar nele toda a plenitude" (Cl 1,19). Em Cristo, o Deus vivo se tornou próximo, visível, audível, tangível, de maneira que todos pudessem receber a plenitude de graça e de verdade (cf. Jo 1,14-16). Portanto, toda a existência cristã conhece uma única lei suprema, que São Paulo expressa em uma fórmula que aparece em todos os seus escritos: em Cristo Jesus.
O que significa ser santo? Quem é chamado a ser santo? As pessoas geralmente pensam que a santidade é uma meta reservada a uns poucos escolhidos. São Paulo, no entanto, fala do grande projeto de Deus e diz: "Nele (Cristo), Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e íntegros diante dele, no amor" (Ef 1,4). E fala de todos nós. No centro do desígnio divino está Cristo, em quem Deus mostra seu Rosto: o Mistério escondido nos séculos se revelou na plenitude do Verbo feito carne. E Paulo diz depois: "Pois Deus quis fazer habitar nele toda a plenitude" (Cl 1,19). Em Cristo, o Deus vivo se tornou próximo, visível, audível, tangível, de maneira que todos pudessem receber a plenitude de graça e de verdade (cf. Jo 1,14-16). Portanto, toda a existência cristã conhece uma única lei suprema, que São Paulo expressa em uma fórmula que aparece em todos os seus escritos: em Cristo Jesus.
A santidade, a plenitude da vida cristã, não consiste em realizar empresas extraordinárias, mas na união com Cristo, na vivência dos seus mistérios, fazendo nossas as suas atitudes, pensamentos, comportamentos. A medida da santidade é dada pela altura da santidade que Cristo alcança em nós, daquilo que, com o poder do Espírito Santo, modelamos da nossa vida segundo a sua. É configurar-nos segundo Jesus, como diz São Paulo: "Pois aos que ele conheceu desde sempre, também os predestinou a se configurarem com a imagem de seu Filho" (Rm 8,29).
E Santo Agostinho exclama: "Viva será minha vida repleta de ti" (Confissões, 10,28). O Concílio Vaticano II, na constituição sobre a Igreja, fala com clareza do chamado universal à santidade, afirmando que ninguém está excluído: "Nos vários gêneros e ocupações da vida, é sempre a mesma a santidade que é cultivada por aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus (...). Seguem a Cristo pobre, humilde, e levando a cruz, a fim de merecerem ser participantes da sua glória" (n. 41).
Resta a pergunta: Como podemos trilhar o caminho da santidade, responder a este chamado? Posso fazer isso com as minhas forças? A resposta é clara: uma vida santa não é primariamente o resultado dos nossos esforços, das nossas ações, porque é Deus, três vezes Santo (cf. Is 6, 3), que nos torna santos, e a ação do Espírito Santo, que nos anima a partir do nosso inteiro, é a própria vida de Cristo Ressuscitado, que se comunicou a nós e que nos transforma. Para dizê-lo novamente, segundo o Concílio Vaticano II: "Os seguidores de Cristo, chamados por Deus e justificados no Senhor Jesus, não por merecimento próprio, mas pela vontade e graça de Deus, são feitos, pelo Batismo da fé, verdadeiramente filhos e participantes da natureza divina e, por conseguinte, realmente santos.
Resta a pergunta: Como podemos trilhar o caminho da santidade, responder a este chamado? Posso fazer isso com as minhas forças? A resposta é clara: uma vida santa não é primariamente o resultado dos nossos esforços, das nossas ações, porque é Deus, três vezes Santo (cf. Is 6, 3), que nos torna santos, e a ação do Espírito Santo, que nos anima a partir do nosso inteiro, é a própria vida de Cristo Ressuscitado, que se comunicou a nós e que nos transforma. Para dizê-lo novamente, segundo o Concílio Vaticano II: "Os seguidores de Cristo, chamados por Deus e justificados no Senhor Jesus, não por merecimento próprio, mas pela vontade e graça de Deus, são feitos, pelo Batismo da fé, verdadeiramente filhos e participantes da natureza divina e, por conseguinte, realmente santos.
É necessário, portanto, que, com o auxílio divino, conservem e aperfeiçoem, vivendo-a, esta santidade que receberam" (ibid., 40). A santidade, portanto, tem sua raiz principal da graça batismal, no ser introduzidos no mistério pascal de Cristo, com o qual Ele nos dá seu Espírito, sua vida de Ressuscitado. São Paulo destaca a transformação que a graça batismal realiza no homem e chega a cunhar uma expressão nova, construída com a preposição "com": ‘mortos com', ‘sepultados com', ‘ressuscitados com', ‘vivificados com' Cristo; nosso destino está indissoluvelmente ligado ao seu. "Pelo batismo fomos sepultados com ele em sua morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dos mortos pela ação gloriosa do Pai, assim também nós vivamos uma vida nova" (Rm 6,4). Mas Deus sempre respeita a nossa liberdade e pede que aceitemos este dom e vivamos as exigências que ele comporta; pede que nos deixemos transformar pela ação do Espírito Santo, conformando a nossa vontade com a vontade de Deus.
Como pode acontecer que a nossa maneira de pensar e as nossas ações se convertam no pensar e agir com Cristo e de Cristo? Qual é a alma da santidade? Novamente, o Concílio Vaticano II nos diz que a santidade não é outra coisa senão a caridade vivida plenamente. "E nós, que cremos, reconhecemos o amor que Deus tem para conosco. Deus é amor: quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele" (1 Jo 4,16). Agora, "o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5,5); por isso, o primeiro dom e o mais necessário é a caridade, com a qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor a Ele.
Como pode acontecer que a nossa maneira de pensar e as nossas ações se convertam no pensar e agir com Cristo e de Cristo? Qual é a alma da santidade? Novamente, o Concílio Vaticano II nos diz que a santidade não é outra coisa senão a caridade vivida plenamente. "E nós, que cremos, reconhecemos o amor que Deus tem para conosco. Deus é amor: quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele" (1 Jo 4,16). Agora, "o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5,5); por isso, o primeiro dom e o mais necessário é a caridade, com a qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor a Ele.
Para que a caridade, como uma boa semente, cresça na alma e nos frutifique, todo fiel deve ouvir a Palavra de Deus voluntariamente e, com a ajuda da sua graça, realizar as obras de sua vontade, participar frequentemente dos sacramentos, especialmente da Eucaristia e da liturgia sagrada, aproximar-se constantemente da oração, da abnegação, do serviço ativo aos irmãos e do exercício de todas as virtudes. A caridade, de fato, é o vínculo da perfeição e cumprimento da lei (cf. Cl 3.14; Rm 13, 10); dirige todos os meios de santificação, dá forma a ela e a conduz ao seu fim.
Talvez também essa linguagem do Concílio Vaticano II seja um pouco solene para nós, talvez devêssemos dizer as coisas de uma maneira ainda mais simples. O que é o mais essencial? Essencial é não deixar jamais um domingo sem um encontro com Cristo Ressuscitado na Eucaristia; isso não é um fardo, mas a luz para toda a semana. Não começar nem terminar jamais um dia sem pelo menos um breve contato com Deus. E, no caminho da nossa vida, seguir os "sinais do caminho" que Deus nos comunicou no Decálogo lido com Cristo, que é simplesmente a definição da caridade em determinadas situações. Penso que esta é a verdadeira simplicidade e grandeza da vida de santidade: o encontro com o Ressuscitado no domingo; o contato com Deus no começo e no final do dia; seguir, nas decisões, os "sinais do caminho" que Deus nos comunicou, que são apenas formas da caridade. Daí que a caridade para com Deus e para com o próximo sejam o sinal distintivo de um verdadeiro discípulo de Cristo. (‘Lumen gentium', 42). Esta é a verdadeira simplicidade, grandeza e profundidade da vida cristã, do ser santos.
Eis a razão pela qual Santo Agostinho, comentando o quarto capítulo da 1ª Carta de São João, pode afirmar algo surpreendente: "Dilige et fac quod vis", "ama e faze o que quiseres". E continua: "Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos" (7,8: PL 35). Quem se deixa conduzir pelo amor, quem vive a caridade plenamente é guiado por Deus, porque Deus é amor. Esta palavra significa algo grande: "Dilige et fac quod vis", "Ama e faze o que quiseres".
Talvez pudéssemos perguntar: Podemos nós, com as nossas limitações, nossas fraquezas, chegar tão alto? A Igreja, durante o ano litúrgico, convida-nos a recordar uma fila de santos que viveram plenamente a caridade, que souberam amar e seguir a Cristo em suas vidas diárias. Eles nos dizem que percorrer esse caminho é possível para todos.
Talvez também essa linguagem do Concílio Vaticano II seja um pouco solene para nós, talvez devêssemos dizer as coisas de uma maneira ainda mais simples. O que é o mais essencial? Essencial é não deixar jamais um domingo sem um encontro com Cristo Ressuscitado na Eucaristia; isso não é um fardo, mas a luz para toda a semana. Não começar nem terminar jamais um dia sem pelo menos um breve contato com Deus. E, no caminho da nossa vida, seguir os "sinais do caminho" que Deus nos comunicou no Decálogo lido com Cristo, que é simplesmente a definição da caridade em determinadas situações. Penso que esta é a verdadeira simplicidade e grandeza da vida de santidade: o encontro com o Ressuscitado no domingo; o contato com Deus no começo e no final do dia; seguir, nas decisões, os "sinais do caminho" que Deus nos comunicou, que são apenas formas da caridade. Daí que a caridade para com Deus e para com o próximo sejam o sinal distintivo de um verdadeiro discípulo de Cristo. (‘Lumen gentium', 42). Esta é a verdadeira simplicidade, grandeza e profundidade da vida cristã, do ser santos.
Eis a razão pela qual Santo Agostinho, comentando o quarto capítulo da 1ª Carta de São João, pode afirmar algo surpreendente: "Dilige et fac quod vis", "ama e faze o que quiseres". E continua: "Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos" (7,8: PL 35). Quem se deixa conduzir pelo amor, quem vive a caridade plenamente é guiado por Deus, porque Deus é amor. Esta palavra significa algo grande: "Dilige et fac quod vis", "Ama e faze o que quiseres".
Talvez pudéssemos perguntar: Podemos nós, com as nossas limitações, nossas fraquezas, chegar tão alto? A Igreja, durante o ano litúrgico, convida-nos a recordar uma fila de santos que viveram plenamente a caridade, que souberam amar e seguir a Cristo em suas vidas diárias. Eles nos dizem que percorrer esse caminho é possível para todos.
Em todas as épocas da história da Igreja, em todas as latitudes da geografia no mundo, os santos pertencem a todas as idades e condições de vida, são rostos verdadeiros de todos os povos, línguas e nações. E eles são muito diferentes uns dos outros. Na verdade, devo dizer que, também segundo a minha fé pessoal, muitos santos, nem todos, são verdadeiras estrelas no firmamento da história. E eu gostaria de acrescentar que, para mim, não só os grandes santos que eu amo e conheço bem são "sinais no caminho", mas também os santos simples, ou seja, as pessoas boas que vejo na minha vida, que nunca serão canonizadas. São pessoas normais, por assim dizer, sem um heroísmo visível, mas, na sua bondade de cada dia, vejo a verdade da fé. Essa bondade, que amadureceram na fé da Igreja, é a apologia segura do cristianismo e o sinal de onde está a verdade.
Na comunhão com os santos canonizados e não canonizados, que a Igreja vive em Cristo em todos os seus membros, podemos desfrutar da sua presença e da sua companhia, e cultivamos a firme esperança de poder imitar o seu caminho e compartilhar, um dia, a mesma vida beata, a vida eterna.
Caros amigos, quão grande, bela e também simples é a vocação cristã vista a partir desta luz! Todos nós somos chamados à santidade: é a própria medida da vida cristã. Novamente, São Paulo expressa isso com grande intensidade, quando escreve: "No entanto, a cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo. (...) A alguns ele concedeu serem apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas; a outros, pastores e mestres. Assim, ele capacitou os santos para a obra do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo, até chegarmos, todos juntos, à unidade na fé e no conhecimento do Filho de Deus, ao estado de adultos, à estatura do Cristo em sua plenitude" (Ef 4,7.11-13).
Eu gostaria de convidar todos vós a abrir-vos à ação do Espírito Santo, que transforma as nossas vidas, para ser, também nós, como peças do grande mosaico de santidade que Deus vai criando na história, de modo que o rosto de Cristo brilhe na plenitude do seu fulgor. Não tenhamos medo de dirigir o olhar para o alto, em direção às alturas de Deus; não tenhamos medo de que Deus nos peça muito, mas deixemo-nos guiar, em todas as atividades da vida diária, pela sua Palavra, ainda que nos sintamos pobres, inadequados, pecadores: será Ele quem nos transformará segundo o seu amor. Obrigado.
Na comunhão com os santos canonizados e não canonizados, que a Igreja vive em Cristo em todos os seus membros, podemos desfrutar da sua presença e da sua companhia, e cultivamos a firme esperança de poder imitar o seu caminho e compartilhar, um dia, a mesma vida beata, a vida eterna.
Caros amigos, quão grande, bela e também simples é a vocação cristã vista a partir desta luz! Todos nós somos chamados à santidade: é a própria medida da vida cristã. Novamente, São Paulo expressa isso com grande intensidade, quando escreve: "No entanto, a cada um de nós foi dada a graça conforme a medida do dom de Cristo. (...) A alguns ele concedeu serem apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas; a outros, pastores e mestres. Assim, ele capacitou os santos para a obra do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo, até chegarmos, todos juntos, à unidade na fé e no conhecimento do Filho de Deus, ao estado de adultos, à estatura do Cristo em sua plenitude" (Ef 4,7.11-13).
Eu gostaria de convidar todos vós a abrir-vos à ação do Espírito Santo, que transforma as nossas vidas, para ser, também nós, como peças do grande mosaico de santidade que Deus vai criando na história, de modo que o rosto de Cristo brilhe na plenitude do seu fulgor. Não tenhamos medo de dirigir o olhar para o alto, em direção às alturas de Deus; não tenhamos medo de que Deus nos peça muito, mas deixemo-nos guiar, em todas as atividades da vida diária, pela sua Palavra, ainda que nos sintamos pobres, inadequados, pecadores: será Ele quem nos transformará segundo o seu amor. Obrigado.
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