Nota da CNBB sobre a redução da maioridade penal
A Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil divulgou uma nota sobre a redução da
maioridade penal, na quinta-feira, 16 de maio, durante coletiva de
imprensa, que apresentou o balanço da reunião do Conselho Episcopal
Pastoral (CONESP). A CNBB “reafirma que a redução da maioridade não é a
solução para o fim da violência”. Assim, a “Igreja no Brasil continua
acreditando na capacidade de regeneração do adolescente quando
favorecido em seus direitos básicos e pelas oportunidades de formação
integral nos valores que dignificam o ser humano”.
“Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9)
Nota da CNBB sobre a redução da maioridade penal
O debate sobre a
redução da maioridade penal, colocado em evidência mais uma vez pela
comoção provocada por crimes bárbaros cometidos por adolescentes,
conclama-nos a uma profunda reflexão sobre nossa responsabilidade no
combate à violência, na promoção da cultura da vida e da paz e no
cuidado e proteção das novas gerações de nosso país.
A delinquência
juvenil é, antes de tudo, um aviso de que o Estado, a Sociedade e a
Família não têm cumprido adequadamente seu dever de assegurar, com
absoluta prioridade, os direitos da criança e do adolescente, conforme
estabelece o artigo 227 da Constituição Federal. Criminalizar o
adolescente com penalidades no âmbito carcerário seria maquiar a
verdadeira causa do problema, desviando a atenção com respostas
simplórias, inconsequentes e desastrosas para a sociedade.
A campanha
sistemática de vários meios de comunicação a favor da redução da
maioridade penal violenta a imagem dos adolescentes esquecendo-se de que
eles são também vítimas da realidade injusta em que vivem. Eles não são
os principais responsáveis pelo aumento da violência que nos assusta a
todos, especialmente pelos crimes de homicídio. De acordo com a ONG
Conectas Direitos Humanos, a maioria dos adolescentes internados na
Fundação Casa, em São Paulo, foi detida por roubo (44,1%) e tráfico de
drogas (41,8%). Já o crime de latrocínio atinge 0,9% e o de homicídio,
0,6%. É, portanto, imoral querer induzir a sociedade a olhar para o
adolescente como se fosse o principal responsável pela onda de violência
no país.
O Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), ao contrário do que se propaga
injustamente, é exigente com o adolescente em conflito com a lei e não
compactua com a impunidade. Ele reconhece a responsabilização do
adolescente autor de ato infracional, mas acredita na sua recuperação,
por isso propõe a aplicação das medidas socioeducativas que valorizam a
pessoa e lhe favoreçam condições de autossuperação para retornar a sua
vida normal na sociedade. À sociedade cabe exigir do Estado não só a
efetiva implementação das medidas socioeducativas, mas também o
investimento para uma educação de qualidade, além de políticas públicas
que eliminem as desigualdades sociais. Junta-se a isto a necessidade de
se combater corajosamente a praga das drogas e da complexa estrutura que
a sustenta, causadora de inúmeras situações que levam os adolescentes à
violência.
Adotada em 42
países de 54 pesquisados pela UNICEF, a maioridade penal aos 18 anos
“decorre das recomendações internacionais que sugerem a existência de um
sistema de justiça especializado para julgar, processar e
responsabilizar autores de delitos abaixo dos 18 anos” (UNICEF).
Reduzi-la seria “ignorar o contexto da cláusula pétrea constitucional –
Constituição Federal, art. 228 –, além de confrontar a Convenção dos
Direitos da Criança e do Adolescente, as regras Mínimas de Beijing, as
Diretrizes para Prevenção da Delinquência Juvenil, as Regras Mínimas
para Proteção dos Menores Privados de Liberdade (Regras de Riad), o
Pacto de San José da Costa Rica e o Estatuto da Criança e do
Adolescente” (cf. Declaração da CNBB contra a redução da maioridade
penal – 24.04.2009).
O Conselho
Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
reunido em Brasília, nos dias 14 a 16 de maio, reafirma que a redução da
maioridade não é a solução para o fim da violência. Ela é a negação da
Doutrina da Proteção Integral que fundamenta o tratamento jurídico
dispensado às crianças e adolescentes pelo Direito Brasileiro. A Igreja
no Brasil continua acreditando na capacidade de regeneração do
adolescente quando favorecido em seus direitos básicos e pelas
oportunidades de formação integral nos valores que dignificam o ser
humano.
Não nos cansemos de
combater a violência que é contrária ao Reino de Deus; ela “nunca está a
serviço da humanidade, mas a desumaniza”, como nos recordava o papa
Bento XVI (Angelus, 11 de março de 2012). Deus nos conceda a todos um
coração materno que pulse com misericórdia e responsabilidade pela
pessoa violentada em sua adolescência. Nossa Senhora Aparecida proteja
nossos adolescentes e nos auxilie na defesa da família.
Brasília, 16 de maio de 2013
Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Presidente da CNBB em exercício
Dom Sergio Arthur Braschi
Bispo de Ponta Grossa
Vice-Presidente da CNBB em exercício
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Presidente da CNBB em exercício
Dom Sergio Arthur Braschi
Bispo de Ponta Grossa
Vice-Presidente da CNBB em exercício
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
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