Recomeçar
Recomeçar… esta é uma palavra que deve sempre nortear a nossa vida. Nada melhor do que um dia após o outro, porque literalmente falando podemos recomeçar. Vamos hoje recomeçar? Às vezes deixamos para depois coisas importantíssimas na da nossa vida, e quando nos apercebemos parece que falta a coragem de tocar nas situações e modificá-las, mas não podemos parar, de jeito nenhum. Se sozinhos não conseguimos, peçamos ajuda das pessoas que nos amam e nos compreendem, mas antes de tudo peçamos o auxílio eficaz do Espírito Santo que faz novas todas as coisas e nos socorre em todas as nossas fraquezas como diz a palavra do Senhor: “Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza” (Rm 8,26a).
Clamemos de todo o nosso coração ao longo de todo este dia: Vinde, Espírito Santo! Vinde com força, vinde com poder!
Obrigada, Jesus!
Homilia
Tenhamos a coragem em acolher o olhar de Jesus sobre nós
O Evangelho de hoje nos fala sobre a vocação de Mateus, ou seja, sobre Jesus que o chama para ser Seu discípulo. Precisamos perceber que o Senhor chama um pecador público. Isso era algo de extraordinário. Mas o que significa esta expressão “pecador público”? Significa que alguém era considerado publicamente pecador, pois todos conheciam a sua conduta de pecado.
Os capítulos seguintes ao do Sermão da Montanha, a saber: os capítulos 8 e 9, narram a atividade de Jesus. Diríamos, assim, que se trata do programa de vida que Cristo proclamou no Sermão da Montanha como felicidade e paz para o povo. Este é o programa de vida que o Senhor realiza com Suas atitudes e obras. Dessa maneira, Mateus apresenta a atividade messiânica de Jesus Cristo no seio de seu povo.
No meio desta atividade está situado o texto que a Igreja nos oferece para refletir neste dia. Cabe-nos perguntar por que o evangelista situa o chamado de Levi neste momento de sua narrativa.
Talvez a resposta esteja no último versículo que hoje lemos: “Aprendam, pois, o que significa: ‘Eu quero a misericórdia e não o sacrifício’. Porque eu não vim para chamar justos e, sim, pecadores”, ou seja, o evangelista acha necessário esclarecer que o centro da missão do Messias é buscar o que estava perdido, curar os doentes, libertar os cativos, proclamar o ano de graça da misericórdia do Senhor! (cf. Lc 4,18-19).
Este é o Reino que Jesus vem inaugurar e comunicar com Sua Vida, Morte e Ressurreição. E para ser partícipes e, mais ainda: colaboradores na expansão desse Reino, todos – sem exceção! – são convidados de uma maneira ternamente pessoal, rompendo com qualquer norma ou preconceito que deixe alguém fora do âmbito desse Reino.
Se olharmos agora para Levi – cobrador de impostos – é, sem dúvida, uma das pessoas que na época de Jesus sofriam a exclusão. Esses profissionais não eram queridos pelo povo por causa de seu trabalho ganancioso e desumano. Eram considerados impuros por parte das autoridades religiosas judaicas. E para o Império Romano não eram mais que um dos últimos degraus na escada da opressão que exerciam sobre o povo.
Por essa razão, é escandaloso para os judeus – e também para os discípulos de Jesus – que Cristo o [Mateus] chame para ser Seu seguidor. E, como se isso não bastasse, vai à sua casa e se senta à sua mesa.
Se considerarmos a casa como símbolo da história da pessoa, e partilharmos sua mesa, assim como a sua intimidade, podemos entender que o evangelista está mostrando que Jesus, quando chama Mateus, o faz dentro de sua história com suas luzes e sombras. A resposta que Jesus dá aos fariseus revela Seu conhecimento sobre a vida desse apóstolo [Mateus], que o faz “merecedor” de uma atenção privilegiada por parte d’Ele: “As pessoas que têm saúde não precisam de médico, mas só as que estão doentes”.
Essa maneira de olhar que Jesus tem é, por assim dizê-lo, revolucionária porque está carregada de compaixão e misericórdia. Por isso, não julga nem condena o cobrador de impostos. Antes disso, é capaz – sendo conhecedor da fraqueza e também dos erros de Levi – de convidá-lo para uma vida diferente, que brota da amizade com Deus.
E aqui podemos nos lembrar das palavras do Evangelho de João, quando Jesus Nazareno fala da amizade: “Eu chamo vocês de amigos, porque eu comuniquei a vocês tudo o que o ouvi de meu Pai” (Jo 15,15b).
O Evangelho de hoje nos diz que Jesus “viu primeiro”, referindo-se a Mateus; é vê-lo na sua situação cotidiana e total: “Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado na coletoria de impostos”. Mas o olhar de Cristo é capaz de ir além do que um simples olhar enxerga de um judeu cobrador de impostos. Ele reconhece nesse homem um filho muito querido de Deus, e isso é o que Ele comunica primeiro para o cobrador de impostos. Seu olhar sobre Mateus está carregado da ternura e misericórdia de Deus Pai, que cura as feridas e perdoa os pecados, amando-o incondicionalmente.
Por isso Jesus lhe diz: “Segue-me!”. Abre-se diante de Mateus a possibilidade de um caminho novo, impensável até aquele momento. É convidado a deixar de ser uma engrenagem do império opressor, para passar a ser um íntimo colaborador na construção de um Reino de liberdade, justiça e solidariedade.
Deixemos que Jesus passe e nos olhe no nosso dia a dia e, como São Mateus, tenhamos a coragem de acolher esse olhar e a proposta que dele brota. Sem dúvida, nossa vida passará a ser diferente e poderemos também ser parte deste círculo aberto, inclusivo e integrador de amigos e amigas de Jesus que continuam lutando pela Sua mesma paixão: o ser humano e a casa em que ele habita.
Rezemos: Pai, coloca-me sempre junto àqueles que mais carecem de Tua salvação, e liberta-me de toda espécie de preconceitos que contaminam o meu coração.
Padre Bantu Mendonça
Formações
Ser generoso
A prática da vida cristã deve ser
Ser generoso
A prática da vida cristã deve ser a do amor
Os nossos critérios de ação devem ultrapassar a realidade unicamente humana. Na origem das atitudes há os dados da ética e da moral, mas também as questões divinas que estão relacionadas com as questões da fé.
Ser generoso não é simplesmente ser justo, mas atender às necessidades de quem está em jogo. Não é fato apenas de merecimento e de justiça, mas de solidariedade e de partilha de forma fraterna, para que todos tenham vida digna.
O mundo é como um terreno onde se planta de tudo. É daí que tiramos os alimentos. Mas todos devem trabalhar, uns mais e outros menos, dependendo das condições de cada pessoa. Os frutos são para sustento da coletividade e de forma solidária.
Para o trabalho, há pessoas que chegam cedo, outras trabalham menos, mas ambos têm necessidade de vida e de alimento. Na partilha, ninguém pode ser injustiçado, mesmo que alguém receba além do que é justo por não ter trabalhado o tempo todo.
Jesus conta a parábola do patrão que combinou o salário do dia com um trabalhador. Outros foram chegando ao transcorrer do dia, havendo até quem chegasse ao final da tarde. A ambos o patrão pagou o mesmo valor. Ele agiu com justiça e com generosidade.
No mundo capitalista as atitudes são diferentes, mesmo sabendo da existência de quem partilha com os trabalhadores os lucros da empresa. No mundo de Deus, a ternura e a generosidade ultrapassam as nossas, a lógica é diferente do que fazemos.
A prática da vida cristã deve ser a do amor, com capacidade de doação maior do que aquilo que merecemos. É a misericórdia, a paciência, a compaixão, a bondade e a justiça, tendo como objetivo viver bem, tendo uma vida que faça sentido.
Para Deus, a partilha não é matemática, nem é mesquinha, porque Ele olha a necessidade da pessoa. A bondade do Senhor ultrapassa os critérios humanos e Seus dons são sem medida. O que importa não é o que fazemos, mas a forma como fazemos as coisas.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto
Bispo de São José do Rio Preto
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