sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sorrindo pra vida

Onde está o seu coração hoje?

Mensagem do missionário Márcio Mendes no programa "Sorrindo pra Vida" da TV Canção Nova, desta sexta-feira, dia 27 de janeiro de 2012.

A Palavra meditada hoje está em Mateus 6, 19-21

"A Palavra diz para não cobiçarmos as coisas alheias", afirma Márcio
Foto: Maria Andreia

Se quisermos saber o que é caro e importante para nós é só perguntarmos onde está o nosso coração, que não é formado só da carne, mas de todo o nosso ser.

O que foi que encheu todo o nosso dia e nos alegrou? Se soubermos com qual função ocupamos o nosso tempo saberemos onde está o nosso coração. Se respondermos que o nosso coração está em Deus é sinal de que também o nosso corpo está no Senhor. Ter um coração em Deus é também ir para a eternidade.

O nosso coração nos mostra o que é caro e precioso para nós. E essa Palavra fala do dinheiro, do que é contável, como as cédulas, que não são as únicas formas de dinheiro. E chama a nossa atenção se realmente queremos colocar o nosso coração naquilo que é passageiro e não dura eternamente.

A Palavra de Deus não é contra que tenhamos coisas materiais, mas ela quer nos levar a algo melhor e nos pergunta se sabemos o quanto a nossa vida é valiosa para nos perdermos por esses outros tesouros.

Assim como numa pesquisa foi relatado que a qualidade de vida das pessoas na velhice está ligada ao relacionamento que tiveram na juventude, a vida não está ligada aos bens materiais que a pessoa tem, mas sim ao dar valor às amizades que ela possui.

Se zelamos pela amizade, ela se torna incorruptível, não se perde, não estraga, isso se ela [amizade] for verdadeira. Amizade é uma coisa viva, por isso precisa ser cultivada, assim como para uma planta para dar flores precisa ser adubada.

Existem amizades que cuidamos e cultivamos todos os dias; assim como há algumas [amizades] que temos de dar um espaço, um tempo, mas alimentá-la sempre, para que ela não passe nem estrague.

Amizade boa é amizade velha. É um investimento que, quando a pessoa está idosa, tem alguém com quem compartilhar tudo. Uma das coisas mais importantes para nós na velhice é o fator espiritual, algo que nos dê sentido, pois passamos a vida inteira ocupados, mas chegará uma hora em que o corpo não responderá como antes. É quando seremos obrigados a parar certas atividades, começarmos a ver que a vida não tinha outro sentido que não o trabalho.

Não podemos resumir a nossa vida ao que fazemos. Além do mais, o que fazemos vai passar, e nesta sociedade, a pessoa que não produz, não tem utilidade. A Palavra de Deus se preocupa com coisas que, muitas vezes, não ligamos, como: se colocamos nosso coração em valores passageiros ou em eternos. Tudo que guardamos neste mundo é passível de corrupção, de se estragar, de se perder.

A Palavra diz para não cobiçarmos as coisas allheias; todo ser humano tem que ter projetos, sonhos, mas estes devem ter limites, pois a Palavra nos limita. A condenação está na ambição desregrada, em querer o que é do outro, assim como o que nasce de um desejo de posse sem moderação. A Palavra quer que nós nos libertemos disso.

Ela também nos manda banir a inveja, pois ela nos leva às piores ações. O termo “o que os olhos não veem o coração não sente” é porque começamos a cobiçar e a ter inveja pelos olhos. E esse mal nunca cai em casa, e sim na rua, porque o invejoso sempre anda por aí desejando ter o que é dos outros e não o que possui.

Invejar é, na verdade, a tristeza sentida diante do bem do outro e, assim, sempre descobrimos quem são realmente nossos amigos nos momentos de alegria, pois os que não nos amam não suportam a nossa felicidade! Se quem está ao nosso lado não nos ama, para ele é insuportável ficar ao nosso lado nessa hora. A inveja é o desejo sem moderação de se apropriar daquilo que é do outro.

Notamos que a Palavra de Deus não é algo que não possamos praticar, ela quer banir o mal de nós já que prejudica as pessoas intencionalmente e é pecado grave. Ainda nos ajuda ao nos mostrar que podemos combater a inveja com a humildade e com a entrega da nossa sua vida nas mãos da Divina Providência.

Existem coisas dentro de nós que temos de cortar como a cobiça e a inveja. Quantas pessoas não foram cobiçosas nem invejosas e foram felizes?

Que Deus nos revele neste momento onde está o nosso coração para que possamos descobrir o que é importante para a nossa vida.

Márcio Mendes
Missionário da Comunidade Canção Nova


O encontro com a Palavra é um dom de Deus

Postado por: homilia


A semente que germina e cresce por si mesma exprime a ação de Deus que comunica amor e vida a todos, suplantando os poderosos deste mundo que semeiam a fome e a morte. A segunda parábola, da inexpressiva semente que se transforma em uma árvore acolhedora dos pássaros, exprime que a fé dos discípulos, desprezível diante do mundo, pode gerar o mundo novo de fraternidade e paz. A prática e o ensino de Jesus são caminho e luz.
Marcos mostra Jesus como Mestre do Reino ensinando às multidões na barca de Pedro (4,1). Seu ensino é na base de parábolas ou exemplos. A parábola é uma narração que, sob o aspecto de uma comparação, está destinada a ilustrar o sentido de um ensino religioso. Quando todos os detalhes têm um sentido e significado real, ela [parábola] se transforma em alegoria. Como em João 10,1-16, no caso do Bom Pastor.
No Antigo Testamento as parábolas são escassas, um exemplo é 2 Sm 12,1-4 em que Natã dá a conhecer seu crime a Davi. Porém, no Novo Testamento Jesus usa frequentemente as parábolas especialmente como parte de seu ensino do Reino dos Céus, para iluminar certos aspectos do dele.
No dia de hoje temos duas pequenas parábolas, a primeira própria de Marcos e a segunda compartilhada por Mateus (13,21ss) e Lucas (13,18ss).
Na parábola da semente, Jesus indica que o Reino tem uma força intrínseca que independe dos trabalhadores. Na segunda parábola, Ele indica que o Reino, minúsculo no tempo de Cristo, expandir-se-á de modo a se estender pelo mundo inteiro. Vejamos versículo por versículo as palavras de Jesus.
E dizia: “Assim é o Reino do Deus, como se um homem lançasse a semente sobre a terra” (v. 26). Que significa “Reino de Deus”? No Antigo Testamento Javé, o Deus de Israel, era o verdadeiro Rei e Seu Reino abrangia todo o universo. Os juízes eram praticamente os Seus representantes. Por isso, o Seu profeta Samuel, último juiz, escutou estas palavras: “Não é a ti que te rejeitam, mas a mim, porque não querem mais que eu reine sobre eles” (I Sm 8,7). A partir de Davi, o Reino de Deus tem como representante um rei humano, mas a experiência terminou em fracasso, e o Reino de Deus acabou por ser um reino futuro-escatológico como final dos tempos e transcendente, como sendo Deus mesmo o que seria ou escolheria o novo rei. Esse Reino está chegando e tem seu representante na pessoa de Jesus e dos apóstolos. Nada tem de material ou geográfico, e é formado pelos que aceitam Jesus como Senhor, caminho, verdade e vida. Por isso, dirá Jesus que “o Reino está dentro de vocês”.
A Igreja fundada por Jesus é a parte visível desse Reino, que não é como os do mundo, mas tem sua base em servir e não em ser servido (Lc 22,27). O oposto do amor, que é serviço no Reino, é o amor ao dinheiro (Mt 6,24), de modo que podemos afirmar que o dinheiro é o verdadeiro deus deste mundo.
“E durma e se levante noite e dia; e a semente germine e cresça de um modo que ele não tem conhecido” (v. 27). É importante unir este versículo ao anterior para obter o sentido completo da parábola. O agricultor faz sua vida independente e a semente nasce e cresce sem ter nada a ver com o agricultor, fora o fato de ser semeada por ele no início. Deste modo, Paulo pode afirmar: “Eu plantei, Apolo regou; mas era Deus quem fazia crescer. Aquele que planta nada é; aquele que rega nada é; mas importa somente Deus, que dá o crescimento” (1 Cor 3,6-7). Assim, na continuação dirá Jesus: “Pois por si mesma a terra frutifica primeiramente a erva, depois a espiga, depois o trigo pleno na espiga” (v. 28).
“Quando porém, tiver aparecido o fruto, rapidamente ele envia a foice porque tem aparecido a ceifa” (v. 29). Não há nada a comentar a não ser o trabalho do agricultor. Vemos como esse trabalho se reduz a semear e ceifar. A terra e a semente fazem o resto.
E dizia: “a que compararíamos o Reino do Deus, ou em que parábola o assemelharíamos?” (v. 30). Parece que Jesus medita antes de afirmar ou escolhe uma comparação apropriada. Seu estilo é o de chamar a atenção dos ouvintes, um simples recurso oratório que indica, por outra parte, uma memória viva dos ouvintes e não uma posterior reconstrução. É possível que estas palavras formem parte do método de ensino d’Ele.
“Como com a semente da mostarda, a qual quando sendo semeada na terra é a menor de todas as sementes sobre a terra” (v.31). A mostarda é uma planta da família da couve ou repolho, de grandes folhas, flores amarelas e pequenas sementes, que tem duas espécies principais: branca e preta. A branca chega até atingir 1,2 m de altura e a preta pode chegar até 3m e 4m de altura. A preta é comum nas margens do lago de Tiberíades e seu tronco se torna lenhoso. Por isso, os árabes falam de árvores de mostarda. Esta variedade só cresce ao longo do lago e às margens do Jordão. Os pintassilgos – gulosos de suas sementes – chegam em bandos para pousar nos seus galhos e comer os grãos. As sementes não são as menores entre as conhecidas, mas parece que eram modelo, na época, de coisas insignificantes. A mais comum é a branca – não tão ardente como a preta – precisamente por sua maior facilidade em recolher os frutos.
“E quando está semeada surge e se torna maior do que todas as hortaliças e produz galhos grandes de modo que podem, sob sua sombra, as aves do céu habitar” (v. 32). Temos visto como chegam até 3 ou 4 m de altura, suficientes para aninhar os pássaros em seus galhos.
“Jesus anunciava a Palavra usando muitas parábolas como estas, conforme eles podiam compreender. E só lhes falava por meio de parábolas, mas, quando estava sozinho com os discípulos, explicava tudo” (v. 33 e 34). Os discípulos tinham ocasião de saber o significado verdadeiro das comparações, por vezes não muito claras para o ouvinte em geral. O caso mais evidente é o do semeador e os diversos terrenos em que a semente cai. O público podia ficar com a ideia de que a semente da Palavra era recebida de formas bem diversas pelos ouvintes, mas a razão destas diferenças só era explicada aos que, interessados, perguntaram junto aos Doze pela explicação dela (cf. Mc 4,13-20). O encontro com a Palavra é um dom de Deus, mas a resposta a ela depende da vontade e do interesse de cada um. A explicação correspondente sempre a receberá quem esteja interessado em saber a verdade.
Na primeira destas parábolas temos a exposição de como o Reino se expande com uma força que não depende dos homens, mas do próprio Deus. Poderíamos dizer que descreve a força interna do Reino.
Na segunda parábola encontramos a visão externa do Reino. Seu crescimento seria espetacular desde um pequeno grupo insignificante como é a semente da mostarda – que se parece com a cabeça de um alfinete – até uma árvore que nada tem a invejar os carrascos da Palestina.
Uma certeza é evidente: o Reino é uma realidade que não se pode ignorar. Em que consiste? Jesus não revela sua essência, mas, devido ao nome, estamos inclinados a afirmar que o Reino, como nova instituição, é uma irrupção da presença de Deus na história humana, que seria uma revolução e uma conquista – não violenta mas interior do homem – e que deveria mudar a religião em primeiro lugar e as relações sociais em segundo termo.
Numa época em que revoluções externas e lutas pelo poder estavam unidas a uma teocracia religiosa era perigoso anunciar a natureza verdadeira do Reino. Daí que só as externas qualidades do Reino tenham sido descritas e de modo a não levantar reações violentas. O Reino sofrerá violências, mas não será o violentador (Mt 11,12).
Padre Bantu Mendonça

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