domingo, 11 de março de 2012

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A purificação do coração transformará o mundo

Seja extirpada a mentira do coração e da fala!
Da Igreja se diz que sempre pode ser reformada e renovada. Verdadeiras transformações são realizadas em seu seio, muito mais pela santidade de seus filhos do que por eventuais projetos de transformação, ainda que estes sejam necessários, na justa medida e no realismo de seus encaminhamentos. A santidade presente na Igreja é prova de que nela habita seu esposo, que a amou e se entregou por ela, para torná-la santa e perfeita. À santidade que é dom descido do Céu, pela ação do Espírito Santificador, derramado abundantemente em todas as épocas da história, deve corresponder o esforço humano, que se expressa na prática da virtude em todos os seus membros.
O povo de Deus recebeu, por intermédio de Moisés, a perfeição da lei (cf. Ex 20, 1-17ss). Um santo orgulho era cultivado por todos, por saberem ter, no decálogo, o que existe de melhor para toda a humanidade. No entanto, muitas vezes aqueles que tinham sido escolhidos com tamanha gratuidade e generosidade se tornaram um povo de cabeça dura, infiéis aos preceitos do Senhor, profanando a santidade com a qual tinham sido escolhidos. A este povo foram enviados continuamente os profetas, que anunciavam a misericórdia e o perdão e, ao mesmo tempo, denunciavam as falhas das sucessivas gerações. Nem sempre foram bem acolhidos, alguns morreram testemunhas da verdade, mas todos eles, quando verdadeiros profetas, iluminaram com sabedoria a prática religiosa. 
Profeta é aquele que fala diante dos outros com clareza, ou aquele que põe à disposição de Deus a sua fala, para que o Senhor se dirija ao povo. Jesus, que é profeta e mais do que profeta, encontra pecadores e os perdoa, acolhe publicanos e prostitutas, cura as doenças do corpo e da alma. Seus gestos proféticos, como a purificação do templo (cf. Jo 2, 13-15), expressam o zelo amoroso e forte de Deus que O devora por dentro. O verdadeiro Templo, edificado por Deus e reedificado após a morte redentora em três dias, na ressurreição, é o próprio Cristo. Está agora presente em toda parte. Seu amor salvador é destinado a todos os homens e mulheres de todos os tempos. Dali para frente, Jesus atrai todas as gerações. O ponto de chegada, Nova Jerusalém, abre-se como espaço acolhedor, casa de oração para todos os povos, abraço amigo em que, começando dos mais distantes, todos podem ser recebidos. 
Templo a ser purificado são também os corações e os corpos de todos os homens e mulheres que professam a fé. Deixando o Senhor entrar em suas casas e em suas almas, proclamem um tempo de conversão, deixem-se tocar pela palavra da penitência e se voltem de novo para Deus. Ressoe o pregão quaresmal incansavelmente em nossas ruas e casas! 
Nossa geração precisa também ser purificada e acolher o convite a uma renovação de vida. O “chicote” da verdade, que fere e cura a ferida, é-nos de novo oferecido como dom. Quem se submete à Palavra de Deus entenderá a dureza da palavra da verdade, que ao mesmo tempo cauteriza todos os machucados. Caia o orgulho de Babel, terra da confusão, desmorone-se a grande Babilônia, cidade que quer se edificar sem Deus! Caiam e renasçam renovadas e purificadas as estruturas humanas construídas sobre os fundamentos do egoísmo. Sejam expulsos dos pátios dos templos e dos espaços abertos nos corações os negócios ilícitos. Seja extirpada a mentira do coração e da fala! A profanação do sagrado seja superada e a vida dos cristãos seja o desagravo por todo o desrespeito reinante. O descaso pela vida seja curado, a saúde se difunda sobre a terra!
Para chegar lá, a purificação dos templos e dos corações ilumine os passos de todos os cristãos, para que eles sejam fermento de novos valores nas estruturas do mundo. Superando o denuncismo fácil, sejam construtores e companheiros de tantas pessoas de boa vontade, para edificar juntos as desejadas estruturas diferentes na sociedade. Sejam eles próprios homens e mulheres de tamanha capacidade de relacionamento, que arrebanhem, mesmo no silêncio, multidões de pessoas.
O que não pode faltar, neste tempo da Quaresma, é o engajamento de todos no projeto de um mundo diferente. Seu início ocorre nos corações, pelo que havemos de pedir confiantes: “Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão da nossa fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia” (Oração do dia no III Domingo da Quaresma).
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Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém - PA
Dom Alberto Taveira foi Reitor do Seminário Provincial Coração Eucarístico de Jesus em Belo Horizonte. Na Arquidiocese de Belo Horizonte foi ainda vigário Episcopal para a Pastoral e Professor de Liturgia na PUC-MG. Em Brasília, assumiu a coordenação do Vicariato Sul da Arquidiocese, além das diversas atividades de Bispo Auxiliar, entre outras. No dia 30 de dezembro de 2009, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Belém - PA.

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