quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Vocacionados

Você já pensou alguma vez em ser monge? Ou conhece alguém que tenha tal intenção?
Colocamos aqui algumas observações que sempre são ocasião de perguntas de vocacionados.
Ser monge - como no tempo de São Bento (480-547), é ser um cristão que busca a Deus verdadeiramente. É alguém que, vivendo em uma comunidade concreta, procura viver só em Deus, com o coração unificado. Segue como regra principal o Evangelho vivido na espiritualidade da vida de São Bento conforme a Tradição Cisterciense. Os valores centrais são a oração, a leitura espiritual (chamada Lectio Divina) e o trabalho. Daí o conhecido refrão "Ora et Labora".
Deus chama a todos para serem santos. É a vocação universal à santidade. Para ser santo não é preciso que todos sejam monges, pois se pode viver esta vocação universal à santidade sendo um bom pai de família, um leigo engajado, um bom sacerdote diocesano, um bom religioso.
A Igreja é mãe e mestra. Quando Deus chama alguém para a Vida Consagrada ela vai ajudando a pessoa adiscernir a vocação e confirmando esta caminhada. É preciso que a própria pessoa dê seus passos na sincera busca de Deus, no amor à oração, à obediência e aos opróbrios (humilhações). São estes os critérios que São Bento espera dos candidatos.
O itinerário vocacional em nossa Abadia de Nossa Senhora de São Bernardo, em São José do Rio Pardo, é o seguinte:O candidato passa um tempo como vocacionado. Neste período ele escreve, telefona, visita o Mosteiro para melhor purificar sua motivação inicial. Nosso interesse não é direcionar a pessoa para que entre em nossa casa. É, antes, oferecer um espaço, um clima para que ele mesmo dê a sua resposta. Nossa função neste tempo é ajudar a própria pessoa a dar o passo, quando, como e onde.
Uma coisa é certa. No mosteiro ou fora dele a pessoa descobrirá que é chamada a ser santa, o que não significa ser impecável e perfeccionista. Os santos sempre estavam cientes de suas fraquezas e pecados depositando toda a confiança no Senhor. Uma vez passado o tempo de vocacionado, e tendo a pessoa decidido entrar de espontânea e livre vontade, seu pedido pode ser acolhido por Dom Abade Edmilson. Com isso começa o tempo do postulantado que em nosso mosteiro é de um ano. Neste período o irmão começa a dar os primeiros passos na formação monástica.

São-lhe dados a conhecer os costumes da casa e os rudimentos da espiritualidade cisterciense. O postulante vai conhecendo a comunidade e esta vai discernindo nele os indícios de autêntica vocação monástica. Todo o romantismo inicial (pois talvez tenha entrado por causa do hábito, canto gregoriano, arquitetura, amizades) vai cedendo lugar para motivações mais profundas e consistentes (o "habitar consigo mesmo", o descobrir dentro de si a presença do Eterno que o ama não obstante as contingências do tempo e do lugar). Enfim, vai aprendendo a amar a Regra, o abade, os irmãos e o lugar. O postulante fica sobre a responsabilidade de um mestre que lhe vai ajudando no progresso espiritual. Durante o postulantado o irmão não usa nenhuma veste especial.
Depois vem o tempo do noviciado. Recebe o hábito de noviço (túnica, escapulário e faixa brancos) durante um rito interno na comunidade. É a chamada vestição do noviço, o qual é entregue aos cuidados de um irmão que em nome do Abade vai se encarregar da sua formação, ganhando sua alma para Deus. Este encarregado se chama mestre dos noviços. O noviço pode receber um novo nome, nome de um santo escolhido por ele (geralmente ligado à vida monástica) e aprovado pelo Abade. Será seu padroeiro e intercessor. Nesta etapa o noviço vai conhecendo mais de perto a vida cisterciense. Estuda a Sagrada Escritura, os Documentos da Igreja, a História Monástica, a Regra de São Bento, a Espiritualidade Monástica, a Liturgia da Santa Missa e da Liturgia das Horas, as Constituições da Ordem e da Congregação; tem aulas de Formação Humana e pode ter de música. Em nossa Congregação o noviciado é de um ano. Durante o postulantado e o noviciado o irmão não estuda fora do mosteiro. Só depois é que a pessoa poderá continuar seus estudos. No final do noviciado o noviço apresenta seu pedido para a emissão dos votos temporários, para fazer sua Profissão Simples.

No tempo da Profissão Simples ( Profissão Temporária), que dura três anos, o professo usa o hábito branco com escapulário preto, como sinal de sua consagração e capa litúrgica branca. Neste rito de profissão promete três coisas conforme a Regra de São Bento (capítulo 58): sua estabilidade na comunidade até a morte, a conversão de seus costumes e a obediência ao seu superior, o qual faz as vezes de Cristo no mosteiro. Após um ano de profissão retoma seus estudos caso estava estudando antes do postulantado. Mas a sua formação monástica não acabou com o noviciado. Participa de algumas conferências programadas para eles pelo mestre dos professos. Convém dizer que toda a comunidade é formadora e ao mesmo tempo está em contínuo processo de formação na Escola do Serviço do Senhor. No final dos três anos o irmão pede para emitir sua profissão solene na comunidade.
A Profissão Solene é o sinal da maturidade monástica, quando o irmão passa a ser realmente monge. O monge professo solene usa a cogula como veste litúrgica branca. O mais importante no mosteiro é ser monge e não o ser padre. Mesmo o padre, e mais ainda ele, tem que ter a vida comunitária como razão de sua consagração e fonte de fecundidade de seu ministério pastoral. Nem todos no nosso mosteiro são ou serão padres. O tempo vai mostrando a vontade de Deus pelo discernimento do Abade e real necessidade da comunidade. Ainda que só no mosteiro, o monge vive no coração da Igreja, oferecendo um nobre e humilde serviço, na oração e no trabalho, sentindo com a Igreja. O maior e mais belo púlpito do monge é o coro, lugar da Igreja Abacial onde passa grande parte do dia durante as orações.

Pense nisto:
1 . ONDE você está agora, existencialmente? Conte, descreva a situação de sua vida. ‘O que’ e ‘Onde’ você está buscando o sentido de sua vida? Qual a motivação profunda que o move a ler estas explicações? Qual é a imagem que você tem de Deus, da Igreja, do mundo e de si mesmo? Deus o vê e o ama.
2 . DE ONDE você vem? Conte, descreva a história de sua vida passada detalhadamente pois Deus ama você do jeito que é, conhece-o muito mais que você mesmo e está lhe oferecendo uma oportunidade, talvez única, de você também se conhecer. Oportunidade de conhecer a mão de Deus que lhe conduz, vendo que a sua história, por mais tumultuada que tenha sido é uma história de salvação. Deus faz a cada dia uma história por você, com você e em você. Mesmo quando você foi infiel, Deus permaneceu fiel. Permitiu tantos acontecimentos na sua vida, na sua família, no seu ambiente de convívio, tudo para que você desse seu ‘sim’. Ainda que tenha dado tantas vezes um ‘não’, Ele lhe procura com amor eterno. Todos estes acontecimentos do seu passado poderão ser vistos sem medo algum à luz da fé. Nela serão superados. À medida que você deixar Deus agir, amparado pela oração da Igreja que se faz presente agora a você, esta Igreja que acontece nesta Abadia, você verá que irmãos pecadores como você foram chamados à conversão. Você também poderá experimentar a mão de Deus que educa, corrige, modela, reconstrói e lhe enviará a uma missão.
3 . PARA ONDE você vai? Viemos do Senhor e vamos a Ele. Um tema caro à literatura monástica é o da "saudade do paraíso". Conte qual a vontade de Deus na sua vida. Você está disponível a ser ajudado pela comunidade monástica a discernir melhor sua vocação e missão na Igreja e no mundo? Não nos cabe dizer se você tem ou não esta ou aquela vocação. Nossa missão é ajudar as pessoas e encaminharmos sua decisão na vocação universal à santidade. Nem todos são chamados a ser monges. Se Deus o chama Ele quer que você dê seus passos. Para onde ir? Só Ele tem palavras de vida eterna.
Se quiser, pode nos responder. Estamos aqui não como curiosos, mas como amigo e irmão.
 
Dom Paulo Celso Demartini O. Cist., prior e mestre de noviços

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